quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Gracilda (Borboleta - parte II)



Assim eu teria uma das minhas primeiras lições sobre perda.
Saber que as borboletas só viviam por uma semana chocava-me profundamente. Uma semana era tão pouquinho! Só o tempo entre um fim de semana na casa da vovó e outro! Eu já tinha vivido tantas semanas e ainda viveria tantas outras! Tornar-me adulta era algo tão distante!
Triste no carro, enquanto a chácara da vovó e Gracilda ficavam para trás, eu pensava sobre a curta vida das borboletas. “Mamãe, não é justo!” desabafei no carro.
“O que não é justo, Aline?” perguntou mamãe.
“Que as borboletas vivam só por uma semana! É muito pouco! Quer dizer que se a Gracilda nasceu hoje, no domingo que vem ela morre?”
Acho que então mamãe se deu conta da minha tristeza por Gracilda. E procurou me consolar. “Não, Aline! Elas não nascem sendo já borboletas! Antes de se tornarem borboletas elas já viveram bastante tempo sendo lagartas.”
“Lagarta?” admirei-me. Eu achava que já tinha visto lagartas. Eram tão diferentes das borboletas! Lagartas eram feias e bizarras e as borboletas eram lindas e elegantes! Como uma lagarta poderia se transformar em borboleta?
“Como a lagarta vira borboleta, mamãe?” minha curiosidade cientifica de criança agora estava aguçada.
“A lagarta depois de viver muito tempo nas folhas faz um casulo, uma coisinha assim, onde ela fica um tempão e depois sai de lá como borboleta”
   
Papai, que havia escutado quieto a toda a conversa sobre a borboleta Gracilda, apareceu no meu quarto com uma enciclopédia nas mãos, em um dia no meio daquela semana que seguiu. Papai certamente se sensibilizou percebendo que eu andava triste pela borboleta. E eu estava. Gracilda se ainda estivesse viva não tinha muito mais tempo de vida e até que eu pudesse voltar à chácara ela já teria morrido!
Papai me mostrou a gravura de uma borboleta perguntando “A Gracilda era igual a essa aqui?”. Parecia a Gracilda!
“Aline, a Gracilda pode ser uma borboleta monarca! E elas vivem nove meses! Já as outras borboletas, sua mãe se enganou, vivem a maioria por duas semanas. Olha! Essa aqui é a lagarta da borboleta monarca!” disse e mostrou-me outra gravura, essa da lagarta da borboleta monarca.
Eram grandes novidades! A vida da Gracilda era, em comparação, bem maior, eu poderia reencontrá-la! A lagarta nem era tão feia, parecia usar uma roupa de tigrinho, parecida com as roupas da minha mãe. “Nossa! A Gracilda já foi desse jeito!” pensei. E era uma monarca, e monarcas eu sabia que eram rainhas, pois vovó já havia me contado histórias de reis e rainhas!
“Monarca? Não é aquilo de rainha?” perguntei
“Sim”.
Gracilda era uma borboleta rainha! Como ela era importante!


Continua...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Gracilda (Borboleta - parte I)


Você se lembra de ver uma borboleta quando criança e ter se encantado com ela?
Eu me lembro bem de uma borboleta em especial que vi quando eu era criança. Talvez não tenha sido a primeira borboleta que vi, mas é a primeira que me lembro de ter visto bem de pertinho. Eu estava na chácara de minha avó. Gostava de andar sozinha pela chácara e estar naquele espaço cheio de verde, árvores e flores. Certa vez, com coisa de sete anos, eu tinha saído para passear pela chácara e parado em algum ponto do meu passeio, ficando por ali deitada na grama. Até que avistei uma linda borboleta de asas grandes e coloridas voando graciosamente como voam as borboletas. Voou pertinho de mim, posou numa folha próxima e ficou parada ali, mexendo só de vez em quando suas asas. Com medo de espantá-la fiquei sem me mexer observando-a, vendo as lindas cores das asas e aquelas anteninhas compridas! Espichei-me um pouquinho com todo cuidado para não assustá-la e poder vê-la um pouquinho mais de perto. Até que de súbito ela saiu rápido da folha, deu algumas voltas voando ao meu redor, escapando-me da vista nessas voltas agitadas, até que voou rápido e partiu para longe, desaparecendo completamente. Como eu gostei de ter visto aquela borboleta! Fiquei apaixonada pelo pequeno ser.
De volta à casa da chácara contei sobre a borboleta que vi! No caminho retornando à casa fui pensando um nome para a borboleta. Ana? Gracilda? Deise? Talvez o nome de alguma fada das histórias que minha avó me contava, Branwen? Áurea? Laura?
“Gracilda!” Esse nome combinava definitivamente com ela!
Mas quando contei sobre Gracilda à mamãe ela primeiro perguntou, em tom de correção “Gracinda?”. “Não! É Gracilda!” respondi. Então falei à mamãe sobre tornar a ver a Gracilda no final de semana seguinte, quando retornaríamos à casa da vovó. Eu imaginava poder reencontrá-la para sempre voando pela chácara.
“Aline, final de semana que vem ela não vai estar mais viva, as borboletas vivem só uma semana” assim, sem cerimônia, talvez sem consciência da importância que aquilo tinha naquele momento, que mamãe me deu a tão triste notícia sobre a Gracilda.
Não faltava muito para a hora de voltarmos para nossa casa. Não havia tempo de reencontrar a Gracilda. Mamãe já me aprontava, arrumando meu cabelo e minhas roupas, para retornarmos ao Rio de Janeiro. Eu não veria a Gracilda novamente. Teria para sempre apenas a lembrança daquele único encontro.


Continua...