segunda-feira, 26 de maio de 2014

Noite Maldita 4 - cap 1



Em “Noite Maldita”, um grupo de jovens viaja em busca de um final de semana divertido, mas acabam tendo que passar a noite em uma fazenda, onde são vítimas da crença sobre uma antiga maldição local.

Em “Noite Maldita 2”, treze anos após os acontecimentos do primeiro episódio, a região a antiga fazenda se tornou um condomínio. As antigas crenças locais são desconhecidas da maioria da nova população que se formou ao longo de uma década... Mas logo um novo grupo de jovens será vítima do terror.

Em “Noite Maldita 3”, novamente se cumpre o ciclo dos treze anos, mas esta é uma noite decisiva, pois se trata da décima terceira noite maldita, o que traz a possibilidade do espírito maldito ser capaz de vir definitivamente para o mundo físico. Aqueles que lutam contra a maldição tentarão detê-lo e finalmente extinguir a maldição.

Esses três contos formaram a primeira trilogia “Noite Maldita”. Que eu amei escrever e trazer aqui para o blog, e espero que tenha deixado alguma saudade! Tivemos uma terrível maldição, um temido assassino, vilões pagando por suas maldades, mocinhas que se salvaram no último momento... Agora as “Histórias de Terror Assustador que dão Medo” trazem o quarto conto Noite Maldita.

Em “Noite Maldita 4”, que te convido a acompanhar a partir deste post, a maldição que se julgou extinta retornará. O Espírito Maldito retornou do Inferno e está em nosso mundo.

O Álbum “Born Again” de “Black Sabbath” é a “trilha sonora oficial” de “Noite Maldita 4 – O Retorno do Mal”. 

...beijinhos***

Noite Maldita 4 - O Retorno do Mal


Capítulo Um

Uma multidão se amontoava em frente à “Igreja Velha”, a Igreja de N. Sr.ª da Guia. Padre Glaxton, pároco a cinquenta anos da mais antiga Igreja da cidade de Little Town, morrera subitamente no altar.

A notícia se espalhou rapidamente, como costuma acontecer em cidades pequenas, gerando instantaneamente a presença da multidão. Apesar da avançada idade, a morte do padre, pela forma repentina e as circunstancias em que aconteceu, surpreendeu e chocou a população. No entanto havia entre a multidão alguns que secretamente se regozijavam pela morte do pároco. Na verdade alguns dos presentes à missa, lá estavam para assistir aos fatos que estavam já previstos para aquela fatídica manhã de domingo. A morte de Glaxton, no entanto, os interessava menos do que a possibilidade de contemplar a criança que fora levada para receber o batismo. 

Inserida na missa haveria a celebração de batizado da criança do sexo masculino levada pelo casal Bryan e Irene Lempke. O batismo havia se iniciado conforme a liturgia.

Que nome escolhestes para o vosso filho? 
Damon – respondeu o casal Lempke
Que pedis à Igreja de Deus para Damon? 
O Batismo – responderam os pais

Quando Pe. Glaxton rezou a oração de exorcismo e unção pré-batismal, proferindo as palavras “para expulsar de nós o poder de Satanás, espírito do mal, e transferir o homem, arrebatado às trevas, para o reino admirável da vossa luz...”, a criança começou a chorar de forma compulsiva no colo da mãe.

Pe. Glaxton orou a Monição e o diácono se aproximou com a bacia batismal para a Benção e Invocação sobre a água. Quando Glaxton olhou para a bacia pareceu ter visto algo na água. Algo que o emudecera e o apavorara de forma muito intensa. Algo capaz de levá-lo a um estado de pânico que seu coração não foi capaz de suportar. Com os olhos fixos na bacia o padre sentiu o peito e lhe faltou o ar. Com os olhos esbugalhados e parecendo lutar para dizer algo, Glaxton desabou morto sobre o presbitério. 

Bryan Lempke gritou um longo e doloroso “Não!”, e correu abraçando o corpo do padre. Iniciou-se assim o caos e consternação na Igreja Velha.

– Glaxton fora o padre de Bryan quando este frequentou a igreja para a catequese e nos momentos mais angustiantes da sua vida adulta, Glaxton fora um grande amigo e aliado. Por estas razões que o casal, residentes de uma cidade longe dali, voltavam a Little Town. Bryan desejava que fosse Glaxton quem batizasse seu filho e Irene atenderia com gosto ao desejo do amado marido. O que Irene nunca fora capaz de imaginar é que vivenciaria naquela região os piores momentos de sua vida.

***

O casal convidado para padrinhos por Bryan e Irene deixaram Little Town. Bryan Irene e o pequeno Damon Lempke passaram aquela noite em um hotel da cidade e na tarde do dia seguinte compareceram ao enterro do corpo de Pe. Glaxton. De forma silenciosa e penosa, Bryan assistiu ao sepultamento. Após o funeral o casal pegou imediatamente a estrada de volta para a casa. 

Alguns quilômetros após deixar o lugarejo, ainda dentro dos limites municipais de Little Town o carro do casal começou a falhar e parou na estrada. 
Bryan desceu para olhar o motor e ergueu o capô. Irene permaneceu dentro do carro, no banco de trás. O bebê em seu colo parecia observar com atenção a estrada. 
Bryan procurava pela causa do problema, quando um caminhão velho ultrapassou o carro parado à beira da estrada. O caminhão levava uma pesada carga de lâminas de metal e uma delas se desprendeu no momento seguinte à ultrapassagem. A lâmina cortou o ar emitindo um assobio sombrio, que fez Bryan se erguer e voltar o olhar adiante. Bryan não teve tempo sequer de compreender o que estava acontecendo quando a pesada lâmina foi de encontro a ele, decapitando-lhe com a ferocidade de uma foice.

É impossível descrever o horror sofrido por Irene, que do banco de trás do carro se dava conta do ocorrido ao ver a cabeça do marido rolar vários metros pelo asfalto quente até parar a meio metro fora da estrada, imunda de sangue e da terra à beira da estrada. 

Irene gritava e se desesperava de dentro do carro, enquanto o pequeno Damon voltava a dormir, como se os gritos de dor e desespero da mãe fossem para ele uma canção de ninar. 

O motorista do caminhão chegou correndo. Parara alguns metros adiante, por perceber que algo voara de sua carroceria. O caminhoneiro levou as mãos à cabeça, incrédulo ao ver o corpo decapitado caído e a cabeça mais adiante. Enquanto Irene descia do carro para permanecer de pé, com o filho no colo, encostada, em choque, na lateral do carro. O caminhoneiro sem saber o que dizer, trazia, pelos cabelos, a cabeça decapitada e a colocava junto ao corpo, voltou ao caminhão para apanhar um cobertor e, voltando, cobriu o corpo e a cabeça de Bryan.

Um carro de cor preta, que vinha no sentido de quem deixava Little Town, parou. Seu motorista desceu e ofereceu ajuda à viúva. Oferecendo-se para chamar a ambulância, o reboque e para conduzi-la aonde quer que fosse. Mas como o motorista parecia olhar exageradamente para o bebê, Irene esperou pela ambulância, mas recusou a carona, segurando fortemente o filho contra o peito. O caminhoneiro tirou o boné e o segurou com as mãos permanecendo em silêncio ao lado de Irene até a chegada da ambulância e o motorista do carro preto voltou ao seu veículo e os deixou.

– Antes de conhecer Bryan Lempke, os quase quarenta anos de vida de Irene foram uma sucessão de decepções amorosas. Quando era adolescente, Irene sonhava em conseguir fisgar algum quarterback do campeonato universitário de futebol americano, aos vinte e poucos sonhava com os tipos intelectuais, e a partir dos trinta, tudo o que desejava era “um marido”, alguém que lhe tratasse bem. E Bryan era tudo isso ao mesmo tempo, tinha o porte de um quarterback, um ar misterioso e místico, que para ela era a atmosfera de um intelectual e fora, nos anos que viveram juntos até aquele momento horrível, um marido muito carinhoso, que despertava a inveja das antigas amigas dos tempos de escola, que na época foram populares entre os garotos e hoje viviam dias muito menos glamorosos. Talvez por tudo isso seja que Irene não se importasse muito que Bryan não costumasse contar sobre sua vida antes de se conhecerem. Sem saber, no entanto, que esse passado de Bryan, que vivera sob uma terrível maldição, que ele julgava ter sido extinta, estava profundamente ligado ao horror que ela agora vivia, e que, em alguns anos traria a morte para ela própria. 


Continua...

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Alto Preço



"Já chega, pode parar! Você não tem ritmo, é desafinado... você é péssimo, ou melhor, tem que melhorar muito para ser péssimo! Meu conselho é que esqueça sobre cantar, filho!"

– com essas palavras o diretor de seleção de elenco dispensou Jimmy Desjardins.
A meia dúzia de pessoas, também da equipe de seleção, espalhadas pelas cadeiras do teatro, onde acontecia a audição dos candidatos para o elenco de um musical, riram de Jimmy, fazendo-o se lembrar do traumático evento no colegial, quando se apresentou cantando. A cena da miniplateia o fazia rever o auditório de sua escola debochando, atirando coisas e gritando “fora!”.
Jimmy ainda não tinha acabado de deixar o palco, quando ouviu o diretor gritando com a equipe:

“Vocês gastam meu tempo me fazendo ouvir tipos como este? Deveriam tratar de fazerem uma pré-seleção dos candidatos, pelo amor de Deus!”.

Outros que estavam sobre o palco esperando a vez de serem testados, prendiam a boca e olhavam para o chão, tentando não rir.
Pelo menos dessa vez saía com os óculos inteiros! Quando da apresentação no colegial a impossibilidade de enxergar bem com as lentas sujas pelos tomates arremessados o fizeram cair ao sair do palco, e depois precisou remendar as hastes dos óculos que se quebraram no tombo.

Jimmy Desjardins era um indivíduo de baixa estatura, um pouco abaixo do peso, se vestia de modo bastante cafona, usava um corte de cabelo fora de moda e era desprovido de beleza – uma figura nada cativante.

Quando deixou o teatro onde aconteciam as audições, Jimmy parou atordoado ao lado da porta de saída e levou as mãos aos ouvidos e cerrou os olhos. Em sua cabeça, a voz do diretor repetia sem parar as palavras ditas quando interrompeu sua apresentação. Passou um longo tempo assim, ignorando quem passasse por ele. Jimmy não chorou, não se consegue chorar quando se está tão nervoso como ele estava.

Quando conseguiu, se afastou do local, parando no primeiro lugar onde poderia conseguir beber um trago.
Jimmy estava sentado apoiando a cabeça na mão do braço que tinha o cotovelo sobre a mesa. Quando um homem bem trajado, com ar de pessoa importante, o tipo de pessoa que não daria atenção a um sujeito como Desjardins, se sentou à mesa de frente para ele.

- Você sonha em ser cantor de sucesso. Esse é seu sonho, não é, filho? – disse o homem.
Jimmy voltou o olhar para o sujeito e perguntou:
- Como o senhor sabe?
- Eu vi sua apresentação no teatro há pouco.
Jimmy se preparava para ouvir mais um conselho, como o do diretor de elenco, quando o homem continuou:
- Você pode ser muito mais do que todos os que estavam lá.
Desjardins se surpreendeu com a afirmação. E o homem continuou:
- Eu sei o quanto você desejaria poder chutar a bunda daquele tipo que te humilhou lá dentro. Deseja ser famoso e desfrutar os frutos da fama, tais como mulheres, belos carros...
- Com certeza seria um sonho...
- Quem não gostaria de mulheres e carros potentes, não é verdade?
Eles riram.
O homem completou:
- Creia em mim, você pode.
- O senhor acredita mesmo em meu potencial? – perguntou Jimmy.
- Eu o ouvi lá, não foi? – respondeu o homem.
- O senhor trabalha com música?
- Eu trabalho, trabalho com desejos e sonhos e sei que você não deixará passar uma oportunidade de conseguir concretizar os seus.
- Eu faria qualquer coisa, daria qualquer coisa – Jimmy respondeu enfático.
O homem sorriu satisfeito e em seguida perguntou:
- Certamente conhece o Festival dos Novos Ídolos?
- Claro que conheço, senhor! É o maior festival do país! Quem o vence tem carreira garantida, todos os grandes nomes da música de hoje vieram do Festival!
- Pois, eu quero que você participe dele. Você será um dos grandes se assinar contrato comigo. – o sujeito estendeu uma folha de contrato sobre a mesa.
Jimmy não pestanejou e assinou “Jimmy F. Desjardins”.
O homem guardou cuidadosamente o contrato no bolso interno do paletó de seu terno.
- O senhor tem uma música que queira que eu cante? Sabe, eu sou apenas interprete vocal... – respondia Jimmy, quando o homem esticou novamente a mão sobre a mesa, dessa vez entregando a Desjardins um cartão. “Alen Hopley – produtor musical” – dizia o cartão.
- Ele trabalha para mim, vai orientá-lo no que for preciso, e terá uma música para você. – concluiu o homem, e se levantou. Jimmy, agradecido e sonhador, se levantou apressadamente para apertar a mão do homem.

***
Quando Jimmy chegou ao estúdio de Alen Hopley, se sentia em outro mundo. Nunca havia estado em um estúdio musical em sua vida. Hopley tinha uma música pronta para ser interpretada por Desjardins no Festival dos Novos Ídolos.

- Bem, não gosto desse “Desjardins”, seu nome artístico será apenas “Jimmy”. – disse Hopley.



No dia de sua apresentação como candidato ao Festival, Jimmy deixou os óculos de lado e trajou roupa semi social escolhida por Hopley.

Jimmy se posicionou ao centro do palco. Chamava-lhe a atenção não ter a vista embasada pela falta dos óculos.

Piano e teclado começaram a linda melodia composta por Hopley. Mais alguns instrumentos os seguiram e Jimmy começou a cantar de forma irretocável. A música seguiu suave, até que ganhou corpo e subiu de tom no refrão. Jimmy alcançava de forma perfeita as mais altas notas e a cada repetição do refrão Jimmy subia ainda mais as notas sem precisar usar falsetes! Aquele homenzinho feio e de baixa estatura se tornava um gigante diante da plateia que se encantava. Não houve quem não se sentisse emocionado com a canção. Não fora, no entanto, a linda melodia de Hopley, nem as frases enigmáticas e indecifráveis da letra da música, Foi a voz potente, ímpar, a interpretação mais que perfeita de Jimmy que fez todos os presentes verterem lágrimas de emoção, sentindo suas almas serem atravessadas!
Ao termino da apresentação houve um momento de silêncio até que público e jurados conseguissem controlar a emoção. Então, houve a grande ovação com todos, mesmo os jurados, de pé, aplaudindo extasiados a Jimmy.

Jimmy venceu por unanimidade o Festival e se tornou instantaneamente um astro da música. Imediatamente todas as grandes gravadoras do país se estapeavam pelo contrato do vencedor do festival! Seu primeiro álbum incluiu, além da canção vencedora, mais dez músicas compostas por Hopley, e Jimmy até se aventurou a também escrever, e uma canção assinada por ele completou o repertório do álbum, que vendeu milhões de cópias. O nome “Jimmy” passou a ser visto em forma de grandes letras iluminadas nas entradas das maiores e melhores casas de shows de todo o país. E logo Jimmy se apresentava também no exterior. 

Jimmy estava onde sempre desejara estar! Estava no topo! 
Colecionou potentes carros esportes – depois da música era essa sua grande paixão – que gostava de ver estacionados à frente de sua vistosa mansão. 
O antigo garoto estranho, sempre desprezado pelas meninas da escola, que preferiam os garotos populares, passou a ter ao seu dispor multidões de tietes apaixonadas. 
Jimmy se esbaldava da fama, do sucesso e da fortuna em curto prazo! 
Só nunca conseguiu os louros da crítica especializada. Quando lia as críticas escritas pelos jornais, se enfurecia e os rasgava, arremessando-os ao chão.
Tornou-se cada vez mais arrogante. Humilhava os que trabalhavam para ele e todos que lhe fossem subalternos. Humilhava também as muitas mulheres com que dormia.
Seus álbuns seguintes não repetiram o sucesso de seu primeiro trabalho, mas continuava arrastando multidões aos locais de suas apresentações. 

                                                                         ***

Três anos após emergir ao topo da fama, Jimmy chegava a sua moradia, retornando de uma apresentação. Quando entrou na sala da mansão se assustou ao perceber um homem sentado em uma poltrona. Jimmy via o vulto do homem e podia ver que usava chapéu. A penumbra, contudo, escondia o rosto, ocultando sua identidade.

- Quem te deixou entrar? E o que está fazendo aí? – perguntou Jimmy preocupado e indignado com a falha de seus seguranças, ao permitirem a entrada de quem quer que fosse à sua casa.

O homem permaneceu em silêncio. Jimmy apertou os olhos, forçando a vista e esticou o pescoço, tentando identificar o individuo. 

- Quem é você, e o que faz aqui? – insistiu Desjardins.

O homem calmamente se levantou. Ao se levantar respondeu:

- Não se recorda de mim, Jimmy?

Aquela voz era familiar! O homem estendeu a mão, que segurava uma folha, um contrato assinado por Jimmy.

Jimmy então se lembrou da voz, era o homem com quem conversara após a humilhação na seleção de elenco anos atrás, com quem assinara contrato e por quem fora enviado a Hopley.

O homem caminhou mais adiante até onde a luz que vinha de fora o iluminava, no entanto, o chapéu ainda lhe ocultava a fase.

É um prazer reencontrá-lo, Sr. Desjardins, Acho que não lhe disse meu nome na ocasião de nosso primeiro encontro. Espero que você o adivinhe! – disse isso retirando o chapéu, com um gesto cortês.

Jimmy pode ler no contrato em que assinou, que se comprometia a entregar sua alma imortal em troca do sucesso no mundo musical.

- Eu já lhe dei tudo o que prometi naquela tarde, Sr. Desjardins, e o senhor usufruiu o bastante para que minha parte do acordo seja considerada quite. Hoje venho buscar o que me é de direito – disse o homem.

Só então, Jimmy se deu conta, de que tratara com o Demônio.

O pequeno Jimmy Desjardins deu três passos desengonçados para trás, tropeçando nas próprias pernas. E viu o rosto do homem se tornar horrendo.

Aos gritos Jimmy correu, caindo várias vezes pelo caminho, até um de seus carros esporte. 

- Está se esquecendo dos seus óculos, Jimmy – o demônio disse às gargalhadas.

Jimmy deu a partida no veículo e saiu a toda velocidade, deixando a propriedade. Correu com seu carro à velocidade máxima pela estrada, em pânico.
No segundo quilometro de sua fuga, o carro de Jimmy se chocou com um pesado caminhão. Jimmy foi arremessado através do para-brisa. Morreu ao se chocar fortemente com o asfalto. Seus miolos se espalharam na estrada.

No dia seguinte os jornais davam conta da morte trágica do grande astro da música em acidente automobilístico. 
Fãs choravam a morte do ídolo, acendiam velas e rezavam pela paz da alma de Jimmy, que já não lhe pertencia mais.

Jimmy pagou um alto preço. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Para Sempre



Jane e Harold se conheceram na adolescência. Harold se apaixonara por Jane à primeira vista. Mas demorariam dois longos anos até que ele tivesse coragem de pedi-la em namoro. O medo de ser rejeitado pelo grande amor de sua vida o impedira até que se tornasse insuportável seguir adiante sem o pedido. Quando finalmente o pedido foi feito, Jane mal pode acreditar. Esperara por aquele pedido desde que conhecera Harold!


Depois de apenas dois anos de namoro Jane e Harold noivaram! Não havia porque esperar mais! Ambos tinham certeza de que seu amor era eterno! Repetiam incessantemente todos os dias as juras de que estariam juntos para sempre!
A festa de noivado foi simples, pois tinham condições econômicas humildes.
Jane e Harold estavam mais felizes do que nunca.

O casamento também não tardou a acontecer. – Um ano após o noivado.

O padre hesitou e um pouco contra gosto, aceitou que os noivos substituíssem o tradicional “até que a morte os separe”, pela jura preferida do casal: “Para sempre”. E assim se fez! Juraram sacramentalmente amarem-se, respeitarem-se na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para sempre!

O casal vivia de modo simples, mas muito feliz. Após todos esses anos ainda repetiam inúmeras vezes que eram um do outro para sempre.
A vida simples não era motivo de infelicidade.
Harold conseguira emprego distante de onde moravam e, por questões de economia, ia e voltava do o trabalho de bicicleta, gastando cerca de duas horas no percurso.
Harold chegava do serviço por volta de meia-noite. Jane o esperava ansiosa todas as noites.

Até que uma tragédia aconteceu. Em uma noite, quando Harold pedalava pelo trecho da estrada interestadual por onde passava em seu trajeto de volta, um motorista de caminhão, exausto pelo excesso de horas de viagem, cedeu ao sono, dormindo ao volante. Harold não tivera sequer tempo de identificar o que foi o clarão que tão repentinamente surgira diante dele! Eram os faróis do caminhão.

Ambas as famílias, as de Harold e Jane compareceram ao enterro simples e tão tocante. Jane passou os dias seguintes entregue às lágrimas.

Algumas noites depois, Jane dormia no antigo quarto e cama do casal, quando foi acordando, sentindo-se abraçada. Ainda em um estado de sonho misturado com a realidade, disse o nome do amado marido morto, ouvindo “Jane” como resposta. Sentia o abraço e as carícias de Harold! Até que se viu sozinha no quarto! No entanto, ainda sentia seu corpo sendo tocado! Viu também partes do colchão afundar, como se houvesse alguém com ela! Jane sentiu medo, mas não se levantou. Algo frio parecia deslizar pela pele arrepiada de Jane, que, apesar do medo, acabou por se deixar dominar. Jane cerrava as mãos segurando os lençóis e arqueava suas pernas enquanto gemia de prazer.

O que passou a se repetir todas as noites, sempre à meia-noite, o horário em que Harold costumava chegar do trabalho quando vivo.

Jane passou a esperar a meia-noite. Todas as noites quando o horário se aproximava ela tomava um demorado banho, se perfumava e vestia seu mais bonito lingerie, como quem esperava o amado marido.


Jane não quis mudar nada em casa, mantendo tudo como era e onde estava quando Harold ainda era vivo.

Muito após o período que se convenciona manter luto, Jane continuava devotada à memória do marido morto.

Passado ainda mais tempo as pessoas comentavam que Jane se entregara muito cedo à viuvez. Afinal, era ainda jovem e bonita, além do que, o casal não chegara a ter filhos.
Alguns opinavam que a morte trágica e precoce de Harold a abalara em demasia, enlouquecendo-a.

“Como pode? Manter as coisas do defunto no mesmo lugar até hoje, depois de todo esse tempo!”.

Passado mais algum tempo começaram as fofocas no bairro sobre a jovem viúva. Havia os que diziam que ela deveria estar envolvida em um relacionamento que não poderia ser assumido.

“Ela é muito jovem e bonita para estar casta desde a partida do defunto!”.

A curiosidade dos vizinhos os levou a futricar em torno da casa. Vizinhos espiavam pelas frestas das janelas, passavam pela rua tentando ver ou ouvir o que a viúva fazia. Logo a espionagem gerou a notícia:

“Sempre à meia-noite se ouve a viúva gemendo como quem pratica o coito!”.

Isso por um lado reforçou as suspeitas de que Jane se envolvera com algum homem casado.

“Se encontram às escondidas todas as noites!”.

Mas também os mais supersticiosos e dados a crer em espíritos, formularam sua tese:

“É como se espírito do defunto a visitasse todas as noites!”

“Eu não duvido de que seja a alma penada do moço”...

As vizinhas futriqueiras deram conta de habitualmente verem Jane com a luz acesa, sempre perto da meia-noite se arrumando!

“Tá vendo? É para receber o amante!” – diziam uns.

“É para a alma penada do defunto!” – outros diziam se benzendo.

Como nunca se conseguia flagrar um suposto amante, o que acabou prevalecendo foi que, macabramente, a jovem e bela viúva recebia a alma do defunto, que sem se dar conta da própria morte assombrava a casa todas as noites à hora que em vida costumava chegar do trabalho.

O que nunca houve, foi quem tivesse coragem de tocar no assunto com Jane.

Jane mantinha a devoção e obsessão pelo marido morto. Em casa porta-retratos eram verdadeiros altares à memória de Harold. E todas as noites ela cumpria o estranho ritual de esperar pelo marido e se entregar ao prazer em sua cama.

Mas depois de alguns anos Jane não suportava mais a ausência de Harold. Durante a noite passou a esperar a meia-noite em choro e pedia incessantemente à alma do marido:

“Leve-me, meu amor! Leva-me para junto de ti! Essa vida aqui já me é insuportável! Leve-me contigo, meu amado Harold!”

Poucos meses depois Jane foi diagnosticada como tendo “uma doença rara, ainda desconhecida”. Os médicos se esforçaram, mas Jane não melhorava. Além do que, não tomava os remédios, secretamente jogando-os fora. Sua doença era Harold que atendia ao seu pedido, tomar os remédios seria trair seu amor!

Não demorou e Jane veio a falecer. E por muito tempo a antiga casa do casal permaneceu vazia.

Algumas pessoas juram que após a morte da viúva, quando se passava próximo a casa era possível ouvir o casal fazendo amor repetindo:

“Para sempre!”.