quarta-feira, 30 de julho de 2014

Estranho e Extraordinário


Em “Histórias Estranhas e Extraordinárias” eu trago relatos sobre fatos
estranhos, sobrenaturais, coincidências espantosas, pequenas aventuras que a lógica e o raciocínio humano não conseguem explicar, suficientemente.

A história que hoje trago foi enviada à redação da “Planeta” como um caso real, sendo publicada na coluna “Casos Malditos” da edição de junho de 1973 da revista.



Um Pedido de Ajuda na Estrada


Marcelo era motorista de uma transportadora de São Paulo e se encontrava no Estado do Espírito Santo para fazer uma entrega. Apesar dos seus 50 anos, ele era muito forte e aquela viagem lhe parecia muito fácil e curta. Já estava tudo preparado para a partida, quando ele recebeu um recado dizendo que seu ajudante estava muito doente, impossibilitado de participar daquele transporte.
Normalmente, pelo regulamento da firma, ele não deveria viajar sem o ajudante. Mas como ele tinha urgência em terminar o serviço e voltar para São Paulo, pediu uma autorização especial e – apesar da chuva – partiu para seu destino.
Marcelo era conhecido por ser tão ativo quanto teimoso e, como estava acostumado a viajar pelo Brasil inteiro, sentia-se muito seguro de si. Algum tempo depois já tinha abandonado a cidade e alcançado a estrada principal. Como a chuva já estava passando, a viagem transcorria muito tranquila. O único problema é que se sentia solitário. Para distrair, começou a assobiar e cantar. De repente, como se fosse uma visão surgida do nada, os faróis do seu caminhão localizaram na estrada uma mulher acenando para que ele parasse. – O regulamento da transportadora proíbe que seus motoristas parem nas estradas. A mulher, porém, estava bem vestida e parecia desesperada. Ela não dava a impressão de estar ali – debaixo da chuva – por um simples acaso: existia um certo perigo no ar. Num impulso inconsciente ele freou o caminhão, saltou da cabina e perguntou:
– O que foi? O que aconteceu?
A mulher respondeu chorando:
– Graças a Deus que o senhor parou. Sofremos um acidente ali adiante. Meu marido e dois dos meus filhos morreram, mas um conseguiu se salvar. Ajude-me, por favor: ele é apenas um garoto e não consegue sair de lá.
Marcelo mandou a mulher subir, abandonou a estrada principal, entrando por uma outra secundária, de terra batida, que a mulher tinha indicado. Só algum tempo depois que Marcelo se deu conta de um detalhe que o intrigou: a mulher não apresentava nenhum ferimento. Ele perguntou como o desastre tinha acontecido e ela respondeu que não sabia: chovia muito e o carro tinha derrapado pelo morro abaixo, muito rapidamente. Chegando ao local, Marcelo parou o caminhão, pegou um farolete e pediu que ela o esperasse enquanto ele ia buscar o garoto. Com muito cuidado, desceu o morro, até avistar um automóvel arrebentado no meio do mato. Ao ouvir o choro de uma criança, procurou apressar o passo, mas o solo estava coberto de lama. Lá, uma grande surpresa o aguardava. No banco traseiro estava um garoto muito assustado, entre os corpos de dois adolescentes. No banco dianteiro ele viu os corpos de um homem e de uma mulher. Ele retirou o garoto do carro e perguntou quem eram os outros. Chorando, o garoto respondeu que eram seu pai, sua mãe e seus irmãos.
Marcelo esfriou, sentindo o corpo gelar, dirigiu a luz para o rosto da mulher e descobriu, assombrado, que era a mesma que ele tinha encontrado na estrada. Pegou o garoto no colo e subiu lentamente o morro, sabendo que não encontraria mais aquela mulher à sua espera. 



quinta-feira, 17 de julho de 2014

Contos Trash de Aline Thompson



O Balanço


–“Olhe, Phil! Tem um balanço naquela árvore do jardim! Ele me faz lembrar de quando eu era criança e adorava balançar em um que papai fez pra mim, em nossa casa!” – disse Audra ao marido, logo que o casal Reardon, chegara para ver a casa que viriam a adquirir em Princeton - Maine. Uma bela casa vitoriana em ambiente campestre, com vista para a floresta.

Após a mudança, Audra arrumava um dos quartos do segundo andar da casa, quando experimentou a vista da janela, observou de lá, o balanço na árvore do quintal.
O balanço se movia, para frente e para trás.

– “Que estranho, Phil! O balanço está se movendo como se tivesse alguém nele!” – comentou com o marido, que cuidava de alguns papeis de seu trabalho, no cômodo contíguo.

– “Com certeza é o vento, querida!” – ele respondeu de lá.
– “Deve ser” – assentiu a esposa.

Audra tornou a observar o balanço, que continuava a se mover. Mas percebeu que as folhas da copa da árvore não se moviam como fariam com o vento, estando completamente paradas. Ela abriu a janela para confirmar a ausência do vento.
Então ouviu baixinho uma voz de criança cantarolando. Estranhamente parecia vir do balanço no jardim.

– “Querido, sabe se os vizinhos ao lado têm crianças?” – perguntou Audra.
– “Não sei, meu amor. Os corretores não comentaram nada sobre isso e não tive contato com os vizinhos. Isso tem alguma importância?” – disse Phil.
– “Não, nenhuma. Apenas me pareceu ter ouvido uma menininha cantando lá fora!” – respondeu a esposa.

Audra tornou a olhar pela janela. Acreditou que a voz infantil viesse de qualquer lugar próximo, parecendo vir do jardim pela ilusão acústica. Mas lhe intrigava o movimento do balanço.

– “Phil, não está ventando, não pode ser o vento que está movendo o balanço”.
– “Deve ter sido nosso cão, que passou lá e esbarrou nele!” – Phil respondeu sem dar importância ao assunto.

Não poderia ser o cão – pensou Audra. O balanço não se moveria tanto tempo, além do mais, se o fosse, o balanço já teria diminuído seu movimento e parado há algum tempo, mas mantinha-se constantemente no ritmo. Ela, então, voltou à janela e observou que o cão dormia tranquilamente, próximo ao portão, e muito distante do balanço.

– “Phil, não foi o cachorro!”.
–“Ah, Audra, pode ser alguma criança. Você não escutou crianças lá fora?”.
A esposa voltou a observar o balanço. Ele continua a se mover, sempre no mesmo ritmo. Audra se manteve na janela, observando.
Então, repentinamente, o balanço parou, causando ainda mais estranheza para a esposa.
E em seguida, retomou o movimento e o ritmo.
Avaliando o mistério, Audra se deu conta que da janela, não lhe era possível ver o galho, onde as cordas do balanço estavam presas, e, poderia haver alguma criança oculta na copa da árvore, se distraindo em fazer o balanço se mover.

– “Phil, pode ir ao jardim e verificar a árvore do balanço?”.
– “Meu Deus, Audra! Eu estou ocupado com o trabalho! Depois vou lá, se quiser!” – bramiu o marido.
– “Acho que tem crianças na copa da árvore!” – a esposa insistiu.
– “Por que você, que não está ocupada, não vai lá e diz para elas que não podem entrar no nosso quintal?” – o marido respondeu.

Audra se irritou com a resposta do marido e resolveu ir jardim.
Quando ela chegou ao quintal o balanço estava parado. Ela foi a passos apressados até a árvore, investigar se haviam crianças em seus galhos.
Mas quando estava diante do balanço viu algo, que lhe fez gelar de medo. Algo que não vira lá de cima. O balanço estava vazio, contudo a sombra no chão era a de uma menininha sentada no balanço.
Audra quis gritar, mas a voz não lhe saiu, seu coração disparou, as pernas lhe falharam primeiro, e quando conseguiu se mover tentou correr, mas sentiu-se agarrada pelos tornozelos e caiu na grama. Tentava gritar, mas engasgava sem conseguir. Ouviu uma vozinha de menina dizer “alguém pra brincar comigo”. Começou a ser arrastada para o balanço, tentou infrutiferamente se agarrar na terra.

Horas depois, quando Phil procurou pela esposa, foi ao jardim, onde a encontrou sentada no balanço com os ombros apoiados nas cordas Audra pendulava morta.



quinta-feira, 10 de julho de 2014

Noite Maldita 4 - cap 6




Capítulo Final

Ray passou a morar com Gina, que estava radiante em tê-lo consigo.
Certa vez, enquanto Ray estava fora, pelo que se sabia em serviço, Irene perguntou a Gina sobre ele.

“Você sabe onde ele faz segurança? Alguma vez já foi ao serviço dele, Gina?”

“Não, mas por que você tá perguntando isso, Irene? Você acha que pode ter alguma mulher que dê em cima dele no serviço?”

“Não é isso, Gina, é que... Ah, deixa pra lá... É só que... Diga-me, você me disse, faz tempo, quando vocês estavam começando a se relacionarem, que Ray é do interior, não foi?” – Irene mantinha baixo o tom da voz, enquanto conversava, vigiando se Melinda escutaria.

“Tá, e o que isso tem a ver?”

“Só me diz... Você sabe de que cidade no interior o Ray veio?”

“Não, realmente, ele nunca me disse... Só que havia se mudado para cá recentemente... Na verdade, acho que perguntei sim... Acho que ele disse algo sobre ser da região litorânea... Acho que... Mas aonde você quer chegar, Irene? Acha que ele pode estar escondendo algo, tipo ter uma família? Ser casado e com filhos lá na cidade dele? Ah, isso seria bem típico dos homens!”

“Nada, não quero chegar a lugar nenhum... É... Nada! Besteira, só... Deixa pra lá, Gina!”

O assunto foi abandonado. Gina deixou a conversa acreditando que Irene tinha dificuldade em simplesmente aceitar que alguém pudesse estar feliz em um relacionamento, e, portanto, queria ver problemas, procurar por eles – a pobre não teria se recuperado da perda do marido Bryan.
Irene deixou a conversa convencida de que Ray era alguém ligado à Maldição de Little Town, e que se aproximara de Gina, apenas para vigiar Damon de perto – Pobre Gina!

***

Irene passou a viver em constante agonia. Não conseguia descansar durante a noite, tendo poucas horas de sono leve, acordando com qualquer ruído, temia que a qualquer momento intentassem sequestrar Damon.
As horas no trabalho eram ainda mais agoniantes. Toda vez que deixava sua casa, olhava para Damon, temendo que aquela pudesse ser a última vez que o veria. Não conseguia manter a concentração durante o expediente, só conseguindo pensar sobre a chamada Maldição de Little Town.
Ela estava propensa a crer que Damon talvez fosse, de fato, uma criança predestinada a algo terrível. Se não o fosse, havia um grupo de pessoas que criam que fosse, e que não esperariam muito para arrancar-lhe o filho, uma vez que o próximo ano seria mais um décimo terceiro ano. Fosse como fosse, ela amava e continuaria a amar o filho, e teria que fazer algo se quisesse tê-lo consigo.

Certa tarde o patrão de Irene a chamou para conversar. Perguntou-lhe se estava passando por problemas pessoais, uma vez que ela, sempre muito boa funcionária, se tornara completamente improdutiva e distante durante o trabalho. Ofereceu-lhe a possibilidade de tirar alguns dias de folga. – Irene recusou, imaginando que qualquer mudança em sua rotina despertaria a desconfiança daqueles que a cercavam com a intenção de vigiar a Damon.

Irene concluiu que precisava fugir logo com o filho, no entanto, qualquer gesto que Melinda ou Ray pudessem identificar como uma preparação para uma partida, poderia resultar em uma reação destes sentinelas. Decidiu que partiria na manhã seguinte, sob o pretexto de levar o filho ao dentista. Partiriam para sempre e recomeçaria a vida o mais longe possível dali.

O erro de Irene, entretanto, foi esperar até a manhã seguinte.

***

Naquela noite, Irene acordou de seu sono de vigília ao ouvir leves ruídos e sons que pareciam ser passos vindos da sala. Levantou-se e foi até lá verificar. Em lá chegando, se apavorou com o que encontrou. O velho encapuzado havia invadido seu apartamento, e empunhava uma estranha e longa adaga. Ao vê-la, o invasor disse:

“Não quero te fazer mal, mulher. No entanto a criança maldita não pode viver! Saia do caminho, e me permita fazer o que tem que ser feito!”.

Irene avançou contra o encapuzado, agarrando-se à adaga, e iniciou luta corporal com o invasor.

No apartamento de Gina, Ray acordou.

“Parece que tá acontecendo algo na casa da Irene!” – disse Ray, já se levantando, e prendendo um revolver nas calças às costas e se dirigiu apressadamente para o apartamento de Irene.

“Tome cuidado, Ray! Pode ser perigoso!” – Gina gritou para o namorado, que a essa altura já chegava à sala do apartamento da mãe de Damon.

Damon acordou com o barulho da confusão, se levantou, e se dirigiu à sala.

Ray saltou sobre os combatentes, dominando facilmente o encapuzado. Irene caiu no chão, segurando a adaga.
Maior e mais forte, Ray mantinha o invasor sob seu domínio.
Ao ver Damon, Irene, aliviada da aflição da tentativa do encapuzado de tirar a vida de seu filho, e ainda segurando a adaga, correu em direção a Damon.
Mas antes que alguém pudesse fazer ou dizer algo, Melinda, que chegava correndo à sala, agarrou Irene por trás e enfiou-lhe um facão na barriga, soltando a mãe de Damon no chão, ou perceber que a abatera. E sorriu triunfante.

Damon assistiu surpreso à cena de Irene sangrando mortalmente no chão.

“Por que diabos você fez isso a essa mulher?” – Damon perguntou à Melinda.

“Mestre, ela correu com a adaga para lhe matar! Eu vi o histórico de pesquisas no computador dela, ela andou pesquisando sobre o senhor e sobre a maldição! Ela não estava com o velho que Ray dominou?” – respondeu Melinda.

Damon olhou para Irene, que com sangue na boca e já em agonia, respondeu:

“Eu corri para abraça-lo, filho. Tive muito medo pela sua vida...”.

O espírito vivente em Damon se compadeceu de Irene – um sentimento que não experimentava há muitos séculos.
Damon se abaixou e, acariciando Irene no rosto disse:

“Muito obrigado pelo amor e dedicação a mim... mãe”.

“Quem é você de verdade, Damon?”

“Eu sou o Feitor da Antiga Fazenda, aquele que há muito se converteu no Espírito Maldito”.

Irene, então, deu seu último suspiro.

Damon, calmamente apanhou a adaga e disse ao namorado de Gina:

“Coloque o velho bruxo de joelhos!”.

Ray forçou o encapuzado a se ajoelhar e o segurava pelos braços torcidos para trás.

“Demônio!” – bradou o encapuzado.

“Você está como toda Little Town, ajoelhado para mim, Cowley (vide “Noite Maldita 3”)” – disse Damon, chamando-o pelo nome.

“Está feliz pela morte dessa mulher inocente? Você mesmo a teria matado se tivesse conseguido, não é? Para tentar me assassinar” – Damon perguntou, se referindo à Irene.

“Seria uma vítima inocente, mas salvaria milhares de outras vidas inocentes” – respondeu Cowley.

“Curioso! Já ouvi gente sua dizer que vidas não podem ser tratadas como números, que não se pode fazer o bem através de um assassinato e críticas sobre os antigos moradores de Little Town me entregarem algumas vítimas a cada treze anos para evitar um número muito maior de mortes! Acontece que nos tornamos muito parecidos com o que odiamos, Cowley”.

“Você pode estar triunfando agora, Feitor. Mas chegará o dia em que você e todas as hordas do Inferno perecerão!” – Cowley, irado, respondeu.

“Cuidado com o tom, bruxo! Você não está em vantagem! Pensa, por acaso, que eu não sei o que estou segurando?” – Damon respondeu, se referindo à adaga. E prosseguiu – “É magia estrusca, magia que você usou para invadir este lugar sem ser percebido pelos meus sentinelas... Eu já eliminei Glaxton, e meu “papai” Bryan... O que Glaxton viu na bacia batismal foi quem eu realmente sou... Só lamento por não ter podido avisar pessoalmente a Bryan que ele gerara minha reencarnação... Mas a essa altura, lá no Inferno, ele já o sabe...” e se dirigindo à Melinda ordenou – “Abra as cortinas!” voltando-se a Cowley – “Olha só! A lua está bem de frente para as janelas! Foi por isso que escolheu essa hora, bruxo? Se, sob a luz da Lua, essa adaga for cravada no coração, mata-se, não só o corpo, como também o espírito da vítima. Você queria desintegrar meu espírito, não é velho? Não foi capaz de ler em seus relâmpagos de quem seria no final disso o espírito a ser extinguido?”

Cowley suava frio em profunda agonia, sabia que o Feitor não hesitaria.

“Estou lhe fazendo um favor, velho. O inferno pode ser bem pior do que deixar de existir... Isso me deixa curioso! A inexistência, a morte depois da morte! A Lua está bonita hoje, não está? Olhe-a pela última vez na existência de seu espírito, bruxo!”

Dizendo isso, Damon cravou a adaga no coração de Cowley. O coração do bruxo explodiu formando uma nuvem de luz, que em seguida se dissipou.

Ray soltou o corpo do velho no chão.
Damon olhou para Melinda e disse:

“Você demonstrou ser muito estúpida, matando por nada, minha progenitora nesta encarnação” e em seguida, se dirigindo ao namorado de Gina, ordenou – “Mate-a”.

Ray sacou o revolver que trazia às costas, e Melinda, aos prantos e ajoelhada, implorou inutilmente. Melinda caiu morta ao receber um tiro no peito.

Ao ouvir o tiro, Gina, que se mantinha aflita todo esse tempo, desesperada de preocupação com o namorado e com Irene e Damon, correu para a casa de Irene. Chegando à porta viu os corpos.

“Meu Deus, o que aconteceu aqui, Ray?” – Gina perguntou.

“Dylan, a “tia Gina” é uma testemunha inconveniente” – Damon disse, chamando o namorado de Gina por seu verdadeiro nome.

“Dylan? Seu nome não é Ray? Como Damon sabe? Você tem me enganado todo esse tempo?” – perguntou Gina com lágrimas nos olhos.

“Sinto muito, Gina” – Dylan respondeu, e em seguida disparou a arma, matando Gina.

“Nunca gostei dela!” – comentou Damon.

“Que bela bagunça isso aqui ficou! Limpe seu revolver, depois, usando luvas, coloque-o na mão do bruxo e dispare, para deixar um pouco de pólvora na mão dele... Vamos fazer parecer foi tudo uma tentativa de roubo do velho. Você chegou aqui depois e me encontrou escondido com medo no quarto... A polícia nem se dará ao trabalho de investigar muito o ocorrido...” – disse Damon.

“Sim, senhor Feitor” – Dylan respondeu.

O demônio olhou para o corpo de Irene e disse “Me chame de ‘Damon’, ela escolheu esse nome”.

Dylan procedeu como o instruíra Damon, levando-o à Polícia, que o encaminhou para o Serviço Social.

***

“Acredito que o estilo de vida do interior fará muito bem ao pequeno Damon!” – comentou com satisfação, o agente social ao concluir o processo de adoção, requisitado por um abastado casal sem filhos de Little Town.

O agente social pediu que trouxessem Damon, e o apresentou aos pais adotivos.
Damon fitou o casal por um instante... e sorriu.



quinta-feira, 3 de julho de 2014

Noite Maldita 4 - cap 5




Capítulo Penúltimo 

Irene não comentava nada com ninguém, nem mesmo com Gina, sua fiel amiga, mas não deixava de se lembrar do encontro com o estranho velho encapuzado e sobre o que ele lhe disse naquela ocasião. Não apenas se preocupava com o que poderia acontecer, mas com toda aquela conversa estranha.
O velho encapuzado mencionara as mortes do padre Glaxton e a de Bryan.

Irene não costumava pensar sobre aquele evento doloroso, quando perdeu o único homem que a fez feliz.

Com a morte de Bryan, não voltou a tentar batizar Damon, decidindo não seguir os costumes católicos do ex-marido, e deixar que Damon, quando tivesse idade suficiente, decidisse sobre batismo adulto.
No entanto, no fundo, Irene teve medo de que novamente algo de muito ruim voltasse a acontecer, caso o levasse de novo para ser batizado.
O choro de Damon na igreja, a morte do padre sobre o altar e a morte de Bryan no dia seguinte, no fundo, não lhe pareciam mera tragédia, uma peça de mau gosto do destino. Também não deixava de perceber que Damon sempre teve aversão à igrejas, especialmente católicas.

O velho encapuzado afirmara ter vindo de longe e falava com sotaque italiano. Ela sabia que Bryan havia vivido por algum tempo na Itália.

Ele também falara sobre “Maldição de Little Town” e sobre “O Sangue dos Lempkes”.

Certa noite, após conferir sua correspondência eletrônica, Irene acessou o site de buscas da Internet e digitou “Maldição de Little Town” na pesquisa, encontrando, para sua surpresa alguns resultados. Havia alguns sites sobre lendas urbanas que davam conta sobre uma “Maldição de Little Town”.

Os primeiros resultados que encontrou contavam que, na pequena cidade litorânea do interior, houve uma fazenda onde se encontra uma grande pedra, conhecida como “Pedra dos Escravos”, de onde, nos tempos da escravidão, escravos foram torturados e arremessados à morte. E que os espíritos desses escravos amaldiçoaram a região, exigindo, a cada treze anos, a morte de sete vítimas como sacrifício. Caso contrário, espalhariam mortes e tragédias pela região.

Alguns sites afirmavam que, com medo do que poderia acontecer a si próprios e às colheitas, os moradores da região entregavam a cada treze anos, sete vítimas, geralmente forasteiros, e em tempos remotos moças virgens da própria região, a um assassino possuído, uma espécie de “ungido maldito”, a quem cabia executar os sacrifícios, e assim, manter afastada a ira dos espíritos. Tal assassino não era escolhido aleatoriamente. Deveria ser um descendente direto do antigo feitor da fazenda.

Irene se lembrou de alguns desenhos estranhos feitos por Damon, que guardara. Apanhou-os em uma das gavetas da escrivaninha e verificou que um deles parecia ser o desenho de uma grande pedra, que tinha aos seus pés pessoas caídas e ensanguentadas. (um dos desenhos que Damon mostrou a Senhora Pritchard, sua primeira governanta).
Irene engoliu em seco ao constatar a parilidade do desenho com as histórias sobre a suposta maldição.

Os sites afirmavam que, apesar da maldição ser tida como apenas uma lenda urbana, o fato era que a cada treze anos aconteciam casos estranhos de assassinatos na região.

Irene resolveu tentar verificar a informação dos assassinatos que coincidiam com o intervalo de treze anos e pesquisou sobre “Assassinato em Little Town”.
Encontrou várias matérias sobre assassinatos na localidade, e estas, de fato, envolviam grupos de sete ou mais vítimas, com intervalos de treze anos.
Uma dessas notícias fez Irene gelar. Dava conta de que, trinta e oito anos atrás, um jovem de nome Bryan Lempke, após desertar do exercito e fugir do quartel, fora preso na região da antiga fazenda, acusado pela morte de sete vítimas, em sua maioria, jovens de fora da cidade.

Irene sempre soube que Bryan era ex-presidiário, mas nunca conversou a fundo com o marido sobre os motivos de sua prisão.

Ela, então, se lembrou da citação sobre descendência do antigo feitor e, abrindo outra gaveta apanhou os documentos do ex-marido, verificando ser “Anthony Lempke” o nome do pai de Bryan.

Ao pesquisar sobre “Anthony Lempke – Little Town – Assassinato” encontrou a informação de que “Tony Lempke estava entre oito pessoas encontradas mortas na fazenda onde trabalhou. Os registros davam conta de que a perícia concluiu que Tony Lempke havia assassinado sete pessoas de forma brutal e logo após cometeu suicídio”.

Apesar da aflição pelas descobertas, Irene seguiu com as pesquisas. Dessa vez experimentou: “Maldição de Little Town – Lempke”, encontrando o resultado mais intrigante de todos. Um artigo assinado por tal “Katie Duggenfield” (vide ‘Noite Maldita 2). A autora afirmava, para completa descrença dos visitantes da página, que ela própria escapara de ser assassinada como vítima do sacrífico maldito, vinte e cinco anos atrás. A autora afirmava também ter pesquisado a fundo sobre a Maldição de Little Town, e ter obtido informações através de pessoas ligadas ao misticismo e à região. Afirmava também a existência de uma seita secreta em torno da Maldição.
Segundo este artigo a origem da Maldição era mais complexa do que os primeiros resultados davam conta.

Nos tempos da antiga fazenda, um feitor, de nome “Richard Lempke” era conhecido por sua extrema maldade. Costumava, entre outros maus tratos, amarrar os escravos desobedientes no alto da Pedra, conhecida como “Pedra dos Escravos” deixando-os desfalecer ao sol. Numa noite os escravos armaram uma rebelião. Eles conseguiram capturar o Feitor, e o levaram para o alto da Pedra. Lá eles o assassinaram e festejaram com um grande banquete no topo da Pedra. Mas aconteceu que o espírito do Feitor fez um trato com o próprio Demônio. O feitor se tornou um demônio, o “Espírito Maldito de Little Town” e Satã agonizou de tal forma aos escravos durante o banquete, que estes enlouqueceram e saltaram da Pedra para a morte, dando assim ao Feitor a sua vingança.

Aflita, Irene fechou o notebook após ler este último artigo.
Tudo o que lera lhe parecia demasiadamente absurdo e impossível de ser verdade.
Lembrou-se de que o velho encapuzado mencionara “sentinelas”. Estaria falando de membros de uma seita? Irene teve a impressão de que, o homem que a socorreu, livrando-a do encapuzado, o teria matado, não fosse à intervenção policial. Seria o homem que a socorreu um “sentinela” e membro de uma seita secreta?
O velho também havia dito “Nós nos enganamos quando pensamos que a maldição de Little Town estava extinta”. Quem seria esse “nós”, o velho se referia a si próprio e a um grupo de pessoas, se referiria também a Bryan? Seria a razão de Bryan ter vivido sem ter filhos até se casar com ela, o medo de uma maldição? Teria tido um filho com ela por crer na extinção dessa maldição? Todas as respostas pareciam ser afirmativas para Irene. E Damon seria, portanto, o único e direto descendente do feitor da antiga fazenda, a criança cuja vida seria a garantia da continuidade de uma terrível maldição, destinado a ser o assassino maldito.

Irene foi até o quarto de Damon, e da porta o observou dormindo tranquilamente. Em seu coração, Irene temia que membros da tal seita secreta de Little Town, intentassem sequestrar-lhe e tomar-lhe o filho. Voltou a fechar a porta do quarto de Damon e, ao se virar, deu de cara com Melinda de pé, que lhe fitava.  Irene se assustou com a jovem e levou a mão ao peito pelo susto.

“Acordada a essa hora Senhora Lempke?” – perguntou Melinda.

“Eu estava respondendo meus e-mails e acabei me demorando mais do que pretendia” – respondeu Irene – “Você, Melinda?”.

“Levantei-me para beber água” – respondeu a jovem governanta.

“A proposito, você é do interior, não é, Melinda?”

A governanta assentiu positivamente.

“De que local exatamente?” – quis saber Irene.

“Região litorânea, ao sul, Senhora” – respondeu Melinda.

“Little Town?”.

“Próximo” – respondeu a governanta.

Irene teve certeza de que se tratava exatamente de Little Town.


Continua...