sábado, 22 de novembro de 2014

Estranho e Extraordinário



Cidade dos Mortos


João Silva, natural de Caruaru (PE), trabalhava há 15 anos como motorista de caminhão pelo interior do Ceará. Ele conhecia aquelas velas estradas poeirentas como a palma da mão. Com a segurança de sempre, iniciou mais uma longa viagem na tardinha de um dia quente. Anoiteceu, mas ele sabia que antes das 11 horas da noite chegaria a uma pequena cidade onde poderia dormir.
A viagem transcorria sem novidades, até que viu algumas luzes alinhadas ao longo da estrada, antes do tempo previsto. Era uma cidade, mas ele não a conhecia. Ficou desconfiado: teria errado o caminho? Estaria perdido? Curioso, tocou o caminhão em frente. Ao entrar na cidade, João Silva diminuiu a marcha e começou a observar. As luzes que tinha visto de longe quase não iluminavam: eram tochas de chama azul arroxeada. As casas eram todas brancas e – além delas – não existiam bares, hotéis ou armazéns. Nenhuma placa indicativa. Nem pessoas nas ruas. Das casas, não vinha luz alguma. De repente, ele percebeu que a cidade não era real.
Com um gesto brusco acelerou o caminhão, mudou a marcha, mãos firmes no volante. Mas por mais que tentasse imprimir velocidade ao caminhão, este não reagia. Sentiu que uma forte ventania em sentido contrário o segurava, fazendo o veículo avançar muito devagar. Viu montes de capim seco rolarem ao vento pelas ruas da cidade morta. Seu maior desejo era sair dali, mas seus músculos estavam paralisados. Foi quando surgiu uma luz real à sua frente. Percebeu que tinha abandonado a cidade-fantasma e se aproximava, agora, a  grande velocidade, de um posto de gasolina. Encostou na beira da estrada e desmaiou. Foi socorrido imediatamente pelos demais motoristas que estavam por ali. Permaneceu sem sentidos um bom tempo e, ao acordar, contou o que tinha acontecido. Os homens ouviram atentamente, com muito respeito. Depois, em conversa, ele ficou sabendo que não tinha sido o único a conhecer aquele lugar maldito. Muitos já passaram pela cidade dos mortos.

Extraído de Revista Planeta, fevereiro de 1974.

sábado, 15 de novembro de 2014

Histórias Bizarras, Sinistras, Macabras


A seguinte história foi publicada na coluna “Conexão” do jornal carioca “Expresso” em 29 de janeiro de 2014.




Internado em um hospital militar com problemas estomacais graves, “M.”, um militar reformado, passou a ser tomado, no sono, por uma leve sensação de prazer: eram sonhos em que vivia uma relação sexual com uma antiga colega de trabalho por quem nutriu paixão no passado. 
Com o passar dos dias de sua longa internação, os sonhos foram crescendo e as relações virtuais também. A ponto de acordar ofegante, quase sem nenhuma energia no corpo.
Quanto mais se sentia cansado, mais intensos eram os sonhos e o desejo de sonhar. Mas com o tempo a fisionomia da mulher se modificava durante a tal relação sexual virtual.
Certa noite, no meio daquela que seria mais uma explosiva relação, “M.” acordou com a figura de uma mulher bela, mas de olhar sinistro, chifre e asas sobre si. Sem voz para gritar, “M.” acredita ter desmaiado.
Ao relatar o caso ao seu médico de confiança, o profissional o alertou de que não era o primeiro a falar de algo semelhante naquele hospital.
Hoje espiritualista, “M.” acredita que sua paixão reprimida e fragilidade física permitiram o ataque de um Succubu – um demoníaco feminino que explora a energia sexual. A ação de succubus, segundo a crença, pode inclusive levar à morte física.

sábado, 8 de novembro de 2014

Histórias de Terror Assustador - Milho do Diabo


A seguinte história é conhecida no interior de São Paulo...




O Milho do Diabo


Em um rincão do interior do estado de São Paulo há um milharal muito bonito do qual ninguém consegue se aproximar.
E mesmo que a plantação não receba cuidados, ela cresce próspera.

Se alguém se aproxima desse milharal durante o dia é atacado por marimbondos e vespas. Se a tentativa se dá à noite, a pessoa é golpeada com tapas na cabeça, sem que lhe seja possível identificar por quem os golpes são desferidos.

Conta-se que muitos anos atrás um lavrador, de nome Simeão, acumulara uma dívida muito grande. Para quitá-la decidiu vender seu pequeno campo, que media um carro* de milho.

* A unidade segundo a qual se mede a colheita e a venda de milho é o “carro”.

Mas como sua dívida excedia em muito o valor do carro de milho na época, o valor pedido por Simeão era acima do que qualquer um estaria disposto a pagar. Mas Simeão, que via na venda do milho a única saída para quitar a dívida, não cedia no valor.

“Pois eu ei de vender meu carro de milho por este preço, nem que seja para o Diabo, eu ei de vendê-lo a esse valor!” – exclamava Simeão.

Um dia um homem, vestido todo de branco, com um grande chapéu, e montado em um burrinho chamou à porta do casebre de Simeão e perguntou pelo milharal. Ao saber do valor pedido pelo lavrador o homem vestido de branco disse:

– “O preço está alto”.
– “É esse o preço, nem que eu tenha que vendê-lo ao Diabo” – disse Simeão.
– “Pois este sou eu, sou o Diabo e compro seu milho” – respondeu o homem montado no burrinho, e pagou ao lavrador a quantia pedida.

Muito feliz com a venda do milharal, Simeão foi à cidade, e lá quitou todas as dívidas. Ao retornar para casa a esposa lhe questionou sobre aonde teria ido, e Simeão contou-lhe que havia vendido o milharal e com o dinheiro pagara todas as dívidas.

– “Não acredito que você encontrou alguém disposto a pagar o preço que você estava pedindo!” – disse a esposa.
– “Pois eu não disse que venderia, mesmo que fosse para o Diabo? Pois bem, veio aqui um homem que disse ser o próprio e comprou-me o milharal”.

Quando a esposa foi apanhar as roupas de Simeão para lavar, sentiu que havia algo no bolso da calça. Meteu a mão e lá estava a mesma quantia em dinheiro que o marido recebera do homem vestido de branco. E toda vez que o lavrador gastava o dinheiro, a quantia voltava a aparecer no bolso da calça, de forma que este nunca mais voltou a ter problemas com dinheiro. No entanto, nunca se soube, ou se ouviu dizer o porquê, Simeão e a esposa vieram a enlouquecer, e se mataram enforcados.

O milharal do Diabo permanece lá, intocável no mesmo lugar.



sábado, 1 de novembro de 2014

Estranho e Extraordinário



O Telefonema


O bar do Luís era famoso na região por causa de um misterioso telefonema. Diariamente, às quatro horas da tarde, o telefone tocava e um homem perguntava se era do bar do Luís e pedia para falar com Sílvia.
Quando se perguntava quem queria falar com ela, o telefone ficava mudo. A princípio, todos pensaram que fosse uma brincadeira. Porém, devido à insistência, a brincadeira perdeu a graça. Quando o dono do bar foi à Companhia Telefônica investigar se a ligação era local ou de fora, o mistério aumentou. Descobriram que ninguém telefonava para o bar naquela hora. Com o tempo, Sr. Luís deixou de atender ao telefone e desistiu de descobrir quem dizia querer falar com a tal Sílvia. Certo dia, uma mulher que em tempos anteriores costumava ir ao bar do Luís em busca de algum item de mercearia, mas que ele não via há mais de cinco anos entrou no bar. Sr. Luís comentou sobre a ausência da antiga freguesa, e como ela era muito simpática e conversativa, começaram a papear. – Ela havia chegado do Sul e estava visitando todos os conhecidos. Enquanto ela explicava ao dono do bar que tinha saído da cidade por causa de uma briga com o pai – um fazendeiro riquíssimo –, que não queria que ela se casasse com um empregado chamado Edmundo, o telefone começou a tocar: eram quatro horas. Ela explicava que quando o pai percebeu que estava muito doente e ia morrer, mandou chamá-la de volta; mas ela tinha decidido voltar somente depois da morte do pai. Quanto ao namorado, apesar de amá-lo muito, nunca mais o vira. Ele faltou ao último encontro, quando se preparavam para fugir. Eles conversavam e o telefone insistia. Como Sr. Luís continuasse a conversar, ela pediu que ele atendesse ao telefone. Ele respondeu que não adiantava: era alguém que há cinco anos queria falar com “uma Sílvia”. A mulher ficou intrigada, disse que se chamava Sílvia, e pediu para atender. Do outro lado uma voz disse: “Sílvia, Sílvia querida, eu não faltei ao nosso encontro. Eu te amo, mas nada podemos fazer. Meu corpo está no precipício perto da Estrada Norte. Eu não te esqueci...” Antes de terminar a ligação, Sílvia estava desmaiada. No dia seguinte, a polícia localizou os restos de Edmundo, no local indicado. Ele tinha sido assassinado pelos capangas do pai de Sílvia. A partir desse dia o telefone voltou a funcionar normalmente. Edmundo tinha encontrado a paz.


Revista Planeta, Julho de 1973.