sábado, 28 de fevereiro de 2015

Te Wairoa - cap 4




Capítulo Quatro


“Tama não é como lhe descrevi, Mr. Bainbridge?” – McRae perguntou ao seu hóspede favorito.

“Gostei muito das nossas conversas, aprendi bastante sobre o povo nativo daqui!” – disse Edwin – “Ele é muito divertido em alguns momentos. Como, por exemplo, quando ‘deu língua’ na direção de um casal pelo qual passamos!”.

“Acho que sei de que “casal” se trata! Clara, a professora e um dos inspetores que vieram visitar a escola. Eu os vi caminhando juntos”.

“Sim! Como soube?” – admirou-se o jornalista.

“Tama nutre paixão pela filha do diretor da escola, a Srtª Clara, no entanto, ele não tem coragem de cortejá-la. De qualquer forma não creio que Tama teria chances com a moça! Ela é um ano mais velha do que ele. Mas não lhe diga que comentei isso com o senhor! Ele pensa que ninguém percebe a admiração que sente pela moça!” – divertia-se Mr. McRae – “A língua de fora, é, para os Maoris, um gesto supremo de desprezo! Tama estava enciumado por ver seu amor platônico na companhia de outro!” – esclareceu.

O jornalista se divertiu ao ouvir sobre o acanhamento e ciúmes do nativo.

“De qualquer forma foi muito proveitosa a conversa com o jovem Tama, inclusive ele me disse tudo sobre o monte Tarawera” – afirmou Bainbridge.

“Duvido que ele tenha dito “tudo” o que sabe sobre aquela montanha! Ele lhe disse “tudo o que crê que um europeu possa saber sobre aquela montanha”!”.

A expressão de Edwin se tornou admirada.

McRae continuou – “Tama é extremamente apegado às lendas maoris, e costuma visitar o Tohunga da tribo”.

“O que é um Tohunga?”

“É uma espécie de sacerdote ancião, é um feiticeiro! Seu nome é Ariki. Nem pense em procura-lo! Sei que pode parecer supersticioso, mas aquele velho é capaz de amaldiçoar. Sobre a cultura maori aproveite Tama! E visite os Terraços Rosa e Branco! Sophia, a guia, pode lhe dar toda informação sobre os Terraços!”.

O jornalista julgou que o dono do Hotel vivera tempo demais em Te Wairoa, visto que demonstrava superstições sobre um velho feiticeiro, de qualquer forma, decidiu não tentar entrevistar o bruxo, que, se não fosse capaz de “jogar pragas”, certamente lhe seria no mínimo hostil. No entanto, decidiu que conversaria com outros maoris, com os quais pudesse se comunicar em inglês.
Em suas andanças pela aldeia conversou com o chefe Rangiheuea, que estava acampado em Te Wairoa, acompanhado por outras doze pessoas. Durante o tempo que passou conversando com o chefe provou mel colhido do monte Tarawera. Enquanto estava em companhia desses, Sophia, a guia, passou por ali, sendo saudada pelo chefe Rangiheuea. O chefe ofereceu do mel para Sophia – esta, entretanto, recusou instantaneamente. Ao perceber que se tratava da famosa guia turística, o jornalista se informou sobre os passeios, agendando sua visita aos terraços para aquele dia mesmo mais tarde.

Mais tarde, no Hotel, o jornalista conversava com McRae sobre a conversa com o chefe, o encontro com Sophia, e o deslumbramento com os Terraços Rosa e Branco.

Tama, que cumpria seus afazeres no hotel, não pode deixar de ouvir quando Edwin mencionou ter provado mel de Tarawera.

“Você comeu do mel?” – exclamou Tama, espantado. Seu rosto revelava um temor extremo – “Você não o poderia ter feito, Mr. Bainbridge!” – disse taxativo. – “É tapu! É tapu!” – exclamava em tom de grande alarde.

McRae se sobressaltou “Tama, não assuste ao Mister!” e encarregou seu empregado de ir ajudar aos homens que trabalhavam na construção da nova sala de recepção do hotel.

Edwin ficou muito intrigado sobre aquilo, e impressionado com a reação do nativo. McRae apressou-se em acalmá-lo sobre a reação do empregado.

“Você esbarrou em um traço fundamental da natureza maori” – disse McRae – “um maori é a criatura mais supersticiosa do mundo. ‘Tapu’ é tabu em língua maori. É um método de proteção! Se determinado animal está ficando escasso, o tohunga, ou mágico, declara-o ‘tapu’ e ninguém mais pode caçá-lo. É também um método de proteger a saúde. Se certos mariscos não são bons para comer em determinada época do ano, o tohunga declara-os tapu, e assim é com qualquer alimento que o tohunga considere que não deva ser consumido!”.


De fato, Tama não chegou perto de contar ao inglês “tudo sobre o monte Tarawera”!

Mas na casa dos Haszards, “A Velha Maria Maori”, criada dos Haszards contava ao interessado em lendas locais, Mr. Harris Lundius, sobre a lenda do “Demônio da Montanha”:

Cinco séculos antes:

Tamaohoi foi o primeiro habitante de Tarawera; foi ele quem deu o nome ao lago e ao monte. Ele era um chefe dos Tangata-Whenua, os povos antigos da terra, as tribos que habitavam a Nova Zelândia antes da chegada das Sete canoas maori. Como muitos outros ancestrais, ele é credenciado como detentor de poderes divinos. Tamaohoi foi um canibal feroz e costumava atacar de surpresa, matar e comer a carne de viajantes. Ele vivia nas margens do lago abaixo das escarpas íngremes da montanha quando Ngatoro-i-Rangi, o sumo sacerdote da canoa Arawa, desembarcou em Maketu com seus seguidores. Os hábitos canibalescos de Tamaohoi irritaram Ngatoro-i-rangi, que decidiu que o chefe ogro dos Tangata-Whenua ficaria melhor debaixo da terra! Então Ngatoro-i-rangi subiu o monte Tarawera. Ele pisou o cume da montanha e abriu um enorme abismo. Usando encantamentos mágicos e seus poderes sagrados sacerdotais, fez Tamaohoi descer ao abismo e depois a fechou sobre ele; e lá o filho canibal do solo mantem-se como o demônio da montanha.

– Maria, não incomode o mister com essas histórias tolas! – Clara, que acabava de chegar à cozinha, repreendeu a criada.

Velha Maria se sentiu ultrajada pela filha do patrão, mas calou-se submissamente e se retirou da sala.

– Está vendo sobre o que lhe digo, Lundius? Nossa aldeia ainda tem muita gente que crê lendas, mas não creem na Igreja!

– Não havia necessidade de ser ríspida com a senhora, eu lhe perguntei sobre lendas locais... Esses mitos nativos fazem parte de nossa cultura e histórias são importantes para nós que somos a Escola...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Te Wairoa - cap 3



Capítulo Três

“Tama, este é Mr. Edwin Bainbridge, o jovem jornalista inglês de quem te falei! – Mr. Bainbridge, este é Tama, meu funcionário, de quem lhe falei. Tama é um jovem de muito valor” – McRae apresentava Tama ao inglês.

“Seja bem-vindo à nossa terra!” – disse Tama, apesar de sua ‘certa resistência aos europeus’, exercia a cortesia devia aos visitantes. Como tinha dificuldades com o idioma inglês, Tama continuou falando em maori, contando nas palavras mais difíceis com McRae como tradutor, e, durante quase quinze minutos falou, movendo os braços em gestos graciosos como os de um dançarino.
O seu discurso era cheio de comparações complicadas e floridas metáforas. Mr. Bainbridge não compreendia as palavras em maori, só podia compreender as palavras quando o escocês as traduzia, mas o ritmo poético não precisava de interprete.  O inglês apreciou a beleza da saudação do jovem.
Após terminar a saudação, Tama recitou a sua genealogia, enumerando geração após geração de chefes e tohungas, até à sua canoa originária.
McRae explicou ao jovem inglês que a lenda diz que os maoris dos tempos antigos chegaram à Nova Zelândia, a que deram o nome de “Terra das Compridas Nuvens Brancas”. Eram sete canoas e os ocupantes delas foram os fundadores das sete tribos principais das ilhas. Os maoris podem traçar a sua origem até esses lendários barcos. Quando os homens maoris se encontram, uma das primeiras coisas que fazem é recitar a sua ascendência até essas canoas individuais.

Edwin sorriu e comentou “Enquanto eu no máximo saberia dizer o nome do meu avô!”.

Tama se sentiu ofendido com o riso do inglês, e julgou que este estivesse desprezando os costumes maoris. O inglês percebeu, pela expressão facial de Tama, o seu desagrado.

“Não me entenda mal, Tama” – disse simpático – “Eu penso que nós ocidentais deveríamos aprender muitas coisas com vocês polinésios! Inclusive a valorizar os ancestrais!” – e prosseguiu – “Sabe, o que me ocorreu agora? O Novo Testamento começa com o Evangelho, que se propõe a nos apresentar Nosso Senhor Jesus, e a primeira coisa que o Evangelho traz é a genealogia de Cristo, não lembra um pouco o costume maori?” – Edwin falava em um inglês pausado e pronunciando bem cada sílaba, para facilitar a compreensão de Tama.

Tama suavizou sua expressão facial e disse: “Vocês ocidentais sempre falando da sua Bíblia! O Senhor é protestante ou católico, Mr. Bainbridge?”.

“Por favor, não precisa me chamar nem de ‘senhor’, nem de ‘Mr.Bainbridge’, Tama! Chame-me de Edwin, meu primeiro nome... Creio que temos a mesma idade: 20 anos!” – disse o inglês, que se voltando para o dono do hotel, perguntou “Tama tem ocupações, Mr. McRae, ou posso conversar mais longamente com meu novo amigo?” – McRae consentiu, mesmo que o funcionário fosse fazer falta, o dono do hotel não poupava gestos para agradar ao jornalista, cujo artigo atrairia muitos turistas.

Edwin colocou a mão no ombro de Tama, em um gesto convidando para caminharem um pouco e conversarem.

“Então, Tama, te respondendo, eu sou protestante”.

“Eu me sinto confuso com isso de protestantes e católicos, não consigo ver muita diferença entre as duas religiões!” – comentou o maori – “Quando os missionários chegaram aqui, um de nossos antepassados encontrou uma solução para os diferenciarmos – ele traçou uma linha no centro da povoação e disse: Os que estão deste lado serão protestantes, os do outro lado serão católicos – e assim continua até hoje”.

Edwin se divertia com as histórias contadas por Tama.

“Não tenho nada contra missionários a não ser alguns absurdos que dizem!” – disse o maori.

“Como o que, por exemplo?”.

“Dizem que é errado fazer tatuagens! Dizem que o deus de vocês proibiu desenhos na pele! Não entendem o significado das tatuagens, nem as nossas crenças! As tatuagens têm o poder de curar e de precaver do que pode vir, de proteger, a afastar, de atrair, reverenciar, saudar e de lembrar!”

“Estou certo que também temos muito que aprender com vocês sobre tolerância!” – “Mr. McRae comentou comigo, que você se aborrece com a atitude de alguns turistas, mencionou especialmente uma senhorita de meu país que passou pelo hotel alguns dias atrás! Quero que saiba, Tama, que não sou como essas pessoas!” – disse o inglês.

Tama se sentia confortável e já simpatizava com esse inglês em particular, que parecia ser como seu patrão, o escocês Joseph McRae. – “Os europeus, especialmente os ingleses – digo em maioria – nos olham como se fossemos inferiores” – disse o jovem maori.

Edwin torceu os lábios e fez uma expressão manifestando lastima.

Tama, orgulhoso comentou “Nós, os Maoris, nunca nos rendemos aos ingleses, assinamos o pacto de paz, como iguais!”.

O inglês assentiu.

Tama continuou contando histórias: “Numa batalha, soubemos que os ingleses estavam com pouca munição e mandamos metade da nossa para eles, para que pudessem continuar a lutar”.

Mr. Bainbridge não conseguiu conter o riso, caindo em gargalhadas. Enquanto se esforçava para deixar de rir disse: “Meu amigo, não se ofenda com meus risos! Enviar munição para um inimigo durante uma guerra, para nós ocidentais, parece tão absurdo, que soa como uma piada! Jamais seriamos capazes de um gesto como este – o que os ingleses fariam no lugar de vocês seria se aproveitarem da situação! Com certeza os maoris são grandiosos guerreiros! Isso, Tama, é um exemplo ímpar do cavalheirismo e honra de seu povo!”.

Tama avistou, ao longe, uma moça, acompanhada por um homem. Tratava-se de Clara, filha de Charlez Haszards, acompanhada pelo inspetor Mr. Harris Lundius– um dos inspetores esperados pelo diretor da escola que haviam chegado.

– Você, sendo de Auckland, uma cidade grande, deve estar achando tão chato estar nesse lugarejo, que é Te Wairoa, Mr. Lundius – dizia Clara.
– Pelo contrário, estou apreciando muito a visita – respondeu o inspetor.
– Isso é, certamente, gentileza sua, Harris. Ups, posso chamá-lo pelo primeiro nome, Mr. Lundius?

– Claro – Harris Lundius consentiu simpaticamente e sorriu para a jovem.

– Acredita que eu nunca fui a Auckland? Mas tenho tanta vontade! Um dia eu vou morar lá, não quero passar a vida em uma aldeia atrasada... Acho tão bonito o jeito de vocês de Auckland falarem! – continuava Clara.

– Ah, você já visitou os terraços branco e rosa? – Clara se lembrou da atração que tornava a insignificante aldeia atraente até para pessoas de Auckland ou qualquer grande cidade do mundo.


Tama se esqueceu da conversa com o inglês e passou a acompanhar Clara e Lundius com o olhar. Depois de algum tempo botou a língua para fora – como fazem as crianças “dando língua”.

“Conhece esses dois?” – Edwin se admirou de Tama “dar língua”, mas deixou a curiosidade sobre o gesto pra lá.

“Ela é a Clara, é professora na escola. Ele deve ser um dos visitantes que o professor Charlez andava esperando!” – Tama parecia não gostar de vê-los juntos.

Edwin preferiu perguntar sobre os vulcões extintos, situados à cerca de catorze quilômetros da aldeia, e continuar a obter de Tama material sobre os maoris: “O que você saberia me contar sobre o monte Tarawera?”.

“Você deveria perguntar aos chefes e mais antigos, eles teem muito mais conhecimento” – respondeu, humildemente, Tama.

“Estou aprendendo muito com você!” – disse o inglês.

“Por gerações, dois importantes grupos do povo Arawa moraram perto da montanha Tarawera. Ao longo de muitos anos batalhas foram travadas pelo controle da terra. Os Ngati Rangitihi de Te Arawa controlaram, o lado Nordeste do Tarawera, incluindo pico central da montanha, Ruawahia. Enquanto isso, os Tuhourangi, também de Te Arawa, tinham poder sobre os lagos de Tarawera, incluindo os terraços de Rotomahana. Naquele tempo cada geração colocou os ossos de seus mortos em lugares secretos em suas encostas superiores. A montanha é sagrada” – disse Tama, dando ênfase à sacralidade da montanha.



domingo, 22 de fevereiro de 2015

Te Wairoa - cap 2



Capítulo Dois


“Estas singulares formações de sílica, cada uma com mais de dois hectares, foram criadas ao longo de inúmeros séculos por cristais de sílica trazidos pela água quente que brotava de fontes existentes nessa região” – A guia Sophia, explicava em inglês aos turistas sobre os ‘Terraços Rosa e Branco do lago Rotomahana’, durante mais um dos passeios de barco, que todos os dias levava os turistas até aquela que era considerada uma das maravilhas turísticas do mundo!

Os Terraços – que ficavam no sopé do Monte Tarawera, no coração do planalto vulcânico da Ilha do Norte. – um de um branco puro e o outro de um rosa-coral – desciam as suaves encostas que margeavam o lago Rotomahana como se fossem gigantescos degraus de uma escadaria irregular. E nos degraus havia piscinas com águas de um azul-claro, essas piscinas, geralmente em níveis mais baixos, onde a temperatura era morna, eram usadas por turistas para banho. A água corria ao longo dos terraços como uma cachoeira no lago Rotomahana.


Sophia Hinerangi, também conhecida como ‘Te Paea’, bem-educada e bilíngue, falava o inglês e a língua maori. Sophia era graciosa, com características bem modeladas, um nariz ligeiramente aquilino, lábios ligeiramente tatuados, grandes olhos escuros e um grosso aglomerado de cabelos negros, e tinha uma voz melodiosa. Era a principal guia turística dos Terraços Rosa e Branco há 16 anos, sendo a mulher mais famosa de seu tempo na região.
Pouco se sabe de seu primeiro casamento, no norte com um homem de quem se diz ter tido 14 filhos. Seu segundo marido foi Hori Taiawhio, com quem veio a Te Wairoa. Havia três filhos do segundo casamento.


“Riqueza que vem com o turismo? Toda essa “riqueza” que os ocidentais trazem para cá, os maoris gastam no mau hábito do álcool que eles trouxeram e para tratar, com medicina deles, as doenças que eles trouxeram junto com eles! Eram bem melhores os velhos tempos. Tínhamos os nossos barcos, as nossas redes e o nosso peixe. Tratávamos da nossa gente quando ficavam doentes e dávamos-lhe comida quando tinham fome. Éramos gigantes naquele tempo! Não ganhamos nada do Ocidente – a não ser doenças. Esquecer os caminhos de nossos antepassados só tem trazido desastres e trará desastres ainda maiores! Não deixe essa gente enfiar besteiras em sua cabeça, filho!” – Tuhoto Ariki respondeu a Tama, quando este humildade comentou com o velho sábio sobre o que seu patrão McRae pensava sobre “progresso em Te Wairoa”.

Na verdade, Tama era uma das poucas pessoas que “ousava” visitar o tulonga, pois o via como o maior homem de seu tempo.
Tuhoto Ariki morava sozinho em seu pequeno “whare” (casa construída em estilo maori). Ariki era temido, pois os maoris julgavam que ele tinha sob seu comando os poderes do ar e do submundo. Era odiado até por muitos dos seus parentes. 
Mesmo os europeus, que julgavam as crenças maoris como supersticiosas, o temiam, no fundo acreditavam que ele tinha “mau-olhado”.

Quando Ariki disse que o esquecimento dos caminhos dos antepassados traria “desastres ainda maiores”, Tama sentiu a alma gelar. Tama sabia em seu íntimo que aquilo não era uma resmungação de “um velho bruxo rabugento”, como dizia seu patrão McRae. Tama sabia que eram palavras proféticas ditas pelo feiticeiro!


Continua...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Te Wairoa - cap 1


A história de “Te Wairoa” trata de um grande evento da história neozelandesa.
Em “Te Wairoa” relato uma incrível tragédia histórica, mas me permitindo misturar realidade e ficção.
Escrevi a minha “novela”, entre aspas, onde há com certeza erros cronológicos, fruto de algumas informações que não pude obter – como, por exemplo, a data da chegada de Edwin Bainbridge à vila de Te Wairoa. Há um personagem fictício – “Tama”, convivendo com personagens históricos. Há traços de personalidade que eu atribuo a personagens históricos: a ambição de McRae, a arrogância de Dr. Ralph etc. Há diálogos e histórias, retiradas de artigos sobre cultura maori, inseridas nas falas dos personagens...

Espero que você aprecie a história que ofereço para leitura!
Foram muitas pesquisas em sites – especialmente sites da Nova Zelândia, que usei para criar o cenário da “novela”.

“Te Wairoa” é um relato trágico e mágico! 
Um antigo demônio é libertado de sua prisão por um feiticeiro para punir os pecados de sua tribo!


Capítulo Um


Ano de 1886

“Como foi a visita aos Terraços, Srtª Smith?” – perguntou à jovem turista inglesa, o Senhor Joseph McRae, dono do Hotel Rotomahana em Te Wairoa.

“Di-vi-naaaa! São, de fato, como dizem, a oitava maravilha do mundo! Foi muitíssimo agradável me banhar em suas piscinas de águas mornas! Os Terraços branco e rosa são uma obra-prima esculpida por Deus!” – disse entusiasmada. E, após uma pausa, continuou com ar esnobe: “Só não entendo por que Deus foi criar obra tão maravilhosa aqui nesse fim de mundo neozelandês” – disse isso sem se preocupar, pois, sabia que McRae, era, assim como ela, europeu.

Tama, um maori nativo de Te Wairoa e funcionário de McRae, observava a conversa. Compreendia com dificuldade o idioma inglês, mas compreendeu muito bem a atitude da turista.

Após comentar sobre sua partida no dia seguinte “daquele fim de mundo”, que era como ela se referia à Ilha Norte da Nova Zelândia, a turista inglesa subiu para seu quarto.

Tama aproximou-se então do patrão e comentou:

“Não gosto da arrogância desses turistas, Mr. McRae”. – o único funcionário do hotel tinha intimidade e total liberdade de conversar com o patrão.

McRae, no entanto, não dava tanta importância à arrogância dos turistas. E comentou com seu empregado – “Essas pessoas veem para cá, dispostos a pagar um valor elevado para visitar os Terraços” – “Sabe, Tama, Te Wairoa tem um grande futuro! E vem do turismo! Guarde o que estou te falando! A visita que aqui fez o Duque de Edimburgo evidenciou muito nossa região! Essa minha espelunca daqui alguns anos será um grande e luxuoso hotel! E a renda anual de cada morador da nossa aldeia? Não aumentou muito? Chegará logo a 4 mil libras!”

“O tohunga Tuhoto Ariki não gosta da forma como nossa terra tem recebido esses turistas. Ele diz que não se respeita aos ancestrais” – respondeu Tama.

“Ariki é um velho bruxo rabugento! Não é de se admirar também com a idade que tem! Quantos anos mesmo dizem que ele tem?” – disse McRae.

“Ele tem cento e quatro anos. Nossa gente respeita muito aos anciões”. – respondeu o funcionário.

“Não quero ofender aos costumes, você sabe o quanto admiro o seu povo e sou respeitado pelos maoris! Eu mesmo não escolhi deixar a Escócia para viver aqui em Te Wairoa? Aqui vivo feliz aqui com minha esposa e seis filhas e não deixaria Te Wairoa por nenhum outro lugar do mundo! Mas Ariki pensa que o mundo ideal é o mundo em que ele vivia no século passado! Os velhos são assim mesmo! Tama, devemos pensar pra frente! Nesses próximos dias está pra chegar um rapaz, um jovem jornalista” – McRae apanhou uma caderneta e ajeitou os óculos para ler o nome – “Edwin Bainbridge! Escreverá para um jornal de Londres! Acredite em mim, Tama, no próximo século, ou até depois, alguém há de contar a história do Hotel Rotomahana! Até do outro lado do mundo!” – disse o patrão.

McRae não era o único em Te Wairoa que esperava visitantes, Charlez Haszard, diretor da escola local esperava nos próximos dias dois inspetores de visita, J.C. Blythe e Harry Lundius.


Continua...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Histórias de Arrepiar


A seguinte história me foi relatada por um senhor que afirma tê-la testemunhado.



Espírito Queria Levar a Bisneta


Uma jovem vivia com o marido e os pais em uma casinha simples na zona rural
Mas desde que a jovem deu à luz sua primeira filhinha, coisas estranhas começaram a acontecer na local.

A princípio fatos que acabavam sendo creditados às desatenções ou lapsos, como quando a jovem estava preparando comida e uma panela com água que ela tinha certeza de que havia deixando esquentando no fogão não estava lá. Ou coisas até engraçadas, como quando um pedreiro conhecido da família foi consertar algumas telhas, e toda vez que ele estava sobre a casa a escada caía e ele tinha que chamar para conseguir descer.

Mas as coisas começaram a se tornar bem mais tensas. Objetos se moviam sem ninguém mexer neles e pedras caíam no telhado sem que se encontrasse quem as tivesse atirado. Começaram a ouvir com frequência socos nas paredes, e portas e janelas fechadas eram chacoalhadas com força, sem haver ninguém visível fazendo isso.

A situação piorou e panelas pesadas e facas começaram a “voar” perigosamente na direção dos habitantes da casa.

A família, então, passou a ouvir um assobio vindo do quarto, que antes pertencera ao falecido avó da jovem mãe. Assobiava como alguém chamando. Passaram a manter este quarto vazio, uma vez que ninguém conseguia mais ficar nele.

Certo dia, quando os assobios eram ouvidos, a mãe da jovem, à porta do quarto, sendo assistida por todos da casa, perguntou quem estava ali.

Ouviram a voz do falecido responder de dentro do quarto.

“Eu que estou aqui, ora!” – reconheceram assombrados a voz do velho.
“Pai? O senhor é quem tem feito essas coisas na casa?”
“Sim”.
“Por que tem feito essas coisas?”
“Eu quero a bebê! Quero minha bisneta comigo! Vou leva-la comigo!”.

Ao ouvir isso a jovem ficou estarrecida, e abraçando firme a filha contra o peito, começou a chorar.

“Pai, o senhor não pode fazer o que tem feito!”.
“Pois eu quero é ver quem é que vai me fazer parar!”

A situação piorou muito na casa desde então! Panelas, facas, garrafas e toda sorte de objetos acertavam os habitantes da residência ferindo-os, muitas vezes gravemente. Quando isso acontecia ouviam o riso do velho falecido.

A família passou a amarrar objetos perigosos e a encaixotá-los, mesmo assim as coisas continuavam se desprendendo e voando.

Na região havia uma mulher baixinha espírita, conhecida por “mexer com essas coisas”.  A família chamou essa mulher para tentar resolver o caso. Mas assim que ela tentou entrar na casa uma panela pesada voou em sua direção, acertando forte sua testa. Com a cabeça sangrando, ela disse que não poderia ajudar.

A família chamou o padre da localidade. Quando este chegou à frente da casa, o espírito do velho foi ouvido. Ele riu e disse:

“Primeiro aquela mulherzinha pequena e agora um padre? Vocês acham que eu tenho medo de homem que usa saia?”

O padre benzeu a entrada da casa e entrou. Assim que colocou os pés dentro da casa uma garrafa voou certeira em direção à cabeça do sacerdote. Mas ele habilmente a agarrou no ar. Outros objetos voaram em sua direção, e o padre tentou se defender usando uma panela como escudo. Porém eram tantos objetos que ele acabou correndo para fora. O padre se voltou para a família e disse – “Não tem jeito”, deixando apressadamente o local.

O espírito do velho riu e caçoou da família.

Foi procurado, então, um senhor de nome Cesário, de uma cidade vizinha, conhecido por lidar a muitos anos com espiritismo.

Quando ele chegou, encontrou a família e vários vizinhos do lado de fora da casa à sua espera. Todos os fatos anteriores foram-lhe relatados. O homem orientou os presentes a darem as mãos, formando um círculo em torno da casa e que rezassem ‘pai-nossos’ e ‘ave-marias’, enquanto ele entraria para lidar com o espírito.

Cesário entrou na casa, sendo atacado por objetos voadores – uma faca quase o acertou, passando muito próximo ao seu pescoço.

“O que quer você?” – perguntou o espírito.
“Ouça, você não pode continuar o que vem fazendo”. – disse Cesário
“Pois eu vou continuar até que me entreguem a menina!”
“Não, você não vai. Você está aqui, preso a este local por ter sido mau em sua vida, sem ter alcançado salvação. E não vai levar consigo”.
“Pois eu quero ver quem é o homem que vai me impedir!”

Cesário invocou Santo Agostinho, e solicitou ao santo que acorrentasse o espírito do velho.

Todos os que estavam do lado de fora da casa ouviram sons de correntes.

Preso, o espírito do velho disse:

“Eu pensava que não havia um homem que fosse mais do que outro homem, mas vejo que estava enganado”.

Cesário saiu da casa e disse à família:

“Eu consegui prendê-lo, mas não sei dizer por quanto tempo! Ouçam, o melhor é vocês tomarem seus pertences e deixarem para sempre este local”.

E assim a família fez, indo viver longe da antiga casa, e seguirem suas vidas em paz.

A casa nunca foi vendida, e posteriormente veio a ser demolida. Mas até hoje quem quer que se aproxime do terreno é atacado por pedras que são arremessadas, sem que se veja de onde veem.