Capítulo 2 – O Retorno de Bryan Lempke
Horas antes, naquele mesmo dia, numa prisão próxima do bairro de Bill e Vince, um homem era liberado, após cumprir anos de sentença. Seu nome: Bryan Lempke.
Bryan Lempke era uma alma atormentada. Bom filho, perdeu o pai em circunstâncias até hoje não bem esclarecidas e sempre ajudou a mãe desde então. Quando servia ao exercito, no entanto, surtou, desertando de seu quartel. Foi preso acusado de sete assassinatos. Crimes dos quais não se lembra. Só consegue se recordar do quartel antes de sua fuga e a partir do momento de sua prisão. Os fatos entre esses eventos, os assassinatos, ele simplesmente não conseguia se lembrar. Mas carregava muita dor por essas mortes. Teve sua pena reduzida por bom comportamento. Na prisão dedicou-se a leituras religiosas, buscando paz para sua alma. Tornou-se um sujeito muito calado. Estava sempre introspectivo e era raro ter alguma conversa, as tinha apenas com o psiquiatra da penitenciaria, que passou a visitar desde que se iniciaram os pesadelos pelos quais era atormentado todas as noites. Sonhava frequentemente com mortes de pessoas arremessadas de uma pedra muito alta. Entretanto, as consultas não conseguiam livrá-lo do sentimento de culpa ou dos pesadelos.
Na manhã de sua soltura, Bryan, fez um pedido, que se revelou bastante inusitado.
“Posso ficar?”
“O que? O cara quer ficar!” – disse o guarda gorducho e de aspecto desleixado, sentado à mesa, a quem Bryan dirigiu o pedido – “Aí, cara, sabia que você era esquisitão, mas querer ficar mais nesse lugar? Gostou do tempo que passou aí, é?”.
Outro guarda próximo, um magrelo e que usava bigode, que estava encostado à parede enquanto comia uma rosca doce de padaria, riu e comentou:
“Deve tá com algum cacho aí dentro!”.
Os guardas riram.
“Tá deixando esposa aí na cadeia, cara? Arrumou alguma mulherzinha?” – perguntou o guarda gorducho.
Bryan permanecia calado, sem mudar a expressão de seu rosto.
“Pegue suas coisas e esse dinheiro” – disse o gorducho, ao entregar as coisas de Bryan e a quantia de auxílio aos condenados que terminavam a pena – “Saia e recomece sua vida. Mas se quer tanto ficar na prisão, mate mais alguém por aí, que te trazemos de volta pra cá!” – sugeriu debochando.
Bryan, sem dizer mais nada, apanhou as coisas e o dinheiro e deixou a penitenciaria.
Caminhou até onde poderia apanhar alguma condução.
Fez sinal ao primeiro ônibus de viagem intermunicipal que viu.
Embarcou, pagando ao motorista por sua passagem e se acomodou em um dos acentos.
Intencionava ir o mais longe possível daquela região, da qual gostaria de nunca mais se lembrar.
Olhava pela janela, vendo a paisagem dos campos pelos quais a autoestrada passava, enquanto alimentava o desejo que seus tormentos, assim como aquela região, estivessem ficando para trás.
Alguns quilômetros depois de deixar a fronteira do município, no entanto, Bryan puxou o capuz do pesado casaco que vestia. O mesmo que usava no momento de sua prisão treze anos atrás, quando dos assassinatos na fazenda. O capuz ocultava seus olhos à vista de quem o olhasse.
Levantou-se e caminhou lentamente até o motorista.
“Eu desço aqui”
O ônibus parou, deixando Bryan à beira da estrada.
Lempke começou, então, a caminhar calmamente, fazendo de volta todo o caminho percorrido de ônibus, voltando à região onde ele fora preso treze anos antes.
Continua...
Noites malditas chegando...
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