Capítulo Dois
“Estas singulares formações de sílica, cada uma com mais de dois hectares, foram criadas ao longo de inúmeros séculos por cristais de sílica trazidos pela água quente que brotava de fontes existentes nessa região” – A guia Sophia, explicava em inglês aos turistas sobre os ‘Terraços Rosa e Branco do lago Rotomahana’, durante mais um dos passeios de barco, que todos os dias levava os turistas até aquela que era considerada uma das maravilhas turísticas do mundo!
Os Terraços – que ficavam no sopé do Monte Tarawera, no coração do planalto vulcânico da Ilha do Norte. – um de um branco puro e o outro de um rosa-coral – desciam as suaves encostas que margeavam o lago Rotomahana como se fossem gigantescos degraus de uma escadaria irregular. E nos degraus havia piscinas com águas de um azul-claro, essas piscinas, geralmente em níveis mais baixos, onde a temperatura era morna, eram usadas por turistas para banho. A água corria ao longo dos terraços como uma cachoeira no lago Rotomahana.
Sophia Hinerangi, também conhecida como ‘Te Paea’, bem-educada e bilíngue, falava o inglês e a língua maori. Sophia era graciosa, com características bem modeladas, um nariz ligeiramente aquilino, lábios ligeiramente tatuados, grandes olhos escuros e um grosso aglomerado de cabelos negros, e tinha uma voz melodiosa. Era a principal guia turística dos Terraços Rosa e Branco há 16 anos, sendo a mulher mais famosa de seu tempo na região.
Pouco se sabe de seu primeiro casamento, no norte com um homem de quem se diz ter tido 14 filhos. Seu segundo marido foi Hori Taiawhio, com quem veio a Te Wairoa. Havia três filhos do segundo casamento.
“Riqueza que vem com o turismo? Toda essa “riqueza” que os ocidentais trazem para cá, os maoris gastam no mau hábito do álcool que eles trouxeram e para tratar, com medicina deles, as doenças que eles trouxeram junto com eles! Eram bem melhores os velhos tempos. Tínhamos os nossos barcos, as nossas redes e o nosso peixe. Tratávamos da nossa gente quando ficavam doentes e dávamos-lhe comida quando tinham fome. Éramos gigantes naquele tempo! Não ganhamos nada do Ocidente – a não ser doenças. Esquecer os caminhos de nossos antepassados só tem trazido desastres e trará desastres ainda maiores! Não deixe essa gente enfiar besteiras em sua cabeça, filho!” – Tuhoto Ariki respondeu a Tama, quando este humildade comentou com o velho sábio sobre o que seu patrão McRae pensava sobre “progresso em Te Wairoa”.
Na verdade, Tama era uma das poucas pessoas que “ousava” visitar o tulonga, pois o via como o maior homem de seu tempo.
Tuhoto Ariki morava sozinho em seu pequeno “whare” (casa construída em estilo maori). Ariki era temido, pois os maoris julgavam que ele tinha sob seu comando os poderes do ar e do submundo. Era odiado até por muitos dos seus parentes.
Mesmo os europeus, que julgavam as crenças maoris como supersticiosas, o temiam, no fundo acreditavam que ele tinha “mau-olhado”.
Quando Ariki disse que o esquecimento dos caminhos dos antepassados traria “desastres ainda maiores”, Tama sentiu a alma gelar. Tama sabia em seu íntimo que aquilo não era uma resmungação de “um velho bruxo rabugento”, como dizia seu patrão McRae. Tama sabia que eram palavras proféticas ditas pelo feiticeiro!
Continua...
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