sábado, 6 de junho de 2015

Histórias de Vampiros



Mikonos

Na Grécia existe uma pequena ilha. Chama-se Mikonos. Uma cordilheira, um esporão de rocha granítica, escassa de vegetação. Esteve em poder dos turcos durante vários séculos. Mas em 1821 os seus habitantes fizeram um levante armado, lutaram pela independência e ganharam. Ali existe um pequeno cemitério onde se podem encontrar as sepulturas daqueles que tombaram pela liberdade. Ainda hoje são depositadas flores sobre os túmulos dos heróis mortos.
Mas há um outro cemitério na ilha. Um pequeno terreno atrás das rochas, onde os túmulos não têm nome nem cruz. Quem são aqueles mortos? A resposta está gravada numa placa na entrada do cemitério: “1700-1702 – Aqui jazem criaturas que não são deste mundo”.
Como indicam as duas datas, por três anos a ilha de Mikonos viveu no terror. E o medo ainda persiste através dos séculos, pois ninguém ousa arar o campo maldito.
Existe uma lenda segundo a qual ali estavam sepultados os gigantes, mortos por Hércules. Mas não é daqueles mortos que os habitantes tinham medo. Em 1701, o escritor francês Joseph Pitton de Tournefort se encontrava em Mikonos e foi testemunha da “grande epidemia vampírica”.
Escreve Tournefort: “A loucura parecia ter penetrado em todas as mentes. Era uma autêntica epidemia, como a raiva ou a peste. Famílias inteiras abandonavam suas casas e iam viver nos campos ou nos bosques. Todos se lamentavam do contato com os vampiros. Cada um ostentava, quase com orgulho, as marcas rubras das mordidas. Ao cair das trevas, todos se abandonavam aos lamentos, aterrorizados ante a ideia da noite que caía. Os vampiros: esse era o medo de Mikonos. E os sinais das mordidas apareciam realmente. Nos seios das mulheres, no pescoço dos homens. E todos experimentavam uma terrível exaustão. Muitos, depois de algum tempo – antes fortes e robustos –, morriam. E cada morto era um novo vampiro”.

Em três anos houve centenas de mortos em Mikonos, se bem que se combatesse a epidemia com “todos os meios úteis”.
Os “meios úteis” que eles conheciam eram o alho, a lança de madeira pontiaguda e a luz do sol. O alho, pendurado na porta das casas, impedia os vampiros de se acercarem delas. A lança, construída com madeira de freixo, matava-os. A luz do sol destruía o seu simulacro humano, restituindo-os à poeira do tempo.
Mas não existiam freixos na ilha e era necessário mandar os pescadores até as ilhas maiores – Creta e Delos –, para arranjar a madeira necessária à fabricação das lanças. Durante o dia, nas casas miseráveis, homens e mulheres preparavam as armas. Depois, quase no crepúsculo, antes que eles ressurgissem, os mais corajosos chegavam ao cemitério e escavavam as sepulturas.
Era fácil identifica-los. A culpa estava estampada nos seus rostos gordos e corados, sobre os seus lábios ainda úmidos de sangue. Então as lanças os traspassavam, aniquilando-os por toda a eternidade.
Toda vítima de um vampiro se transformava por sua vez em vampiro e devia ser tratada do mesmo modo, para impedir que ressurgisse da tumba e viesse atormentar os vivos, exigindo o sangue que havia perdido.
Pitton de Tournefort narra como via os corpos serem transportados ao cemitério maldito, atrás das rochas. Mas nem sempre sobrava alguma coisa. Os vampiros mais antigos, libertados da maldição, dissolviam-se no pó.
Collin de Plancy, em 1818, assim descreve os vampiros em seu Dictionnaire Infernal: “Desde tempos remotíssimos tem-se dado o nome de upires, vampiros, no Ocidente, de brucolakhi, no Oriente Médio, de katakhanes na Índia, aos homens mortos e sepultados que retornam, em corpo e alma. Falando, caminhando, amedontrando as vilas, sugando o sangue do próximo, tornando-o fraco e causando a sua morte. Quem morre por causa de um vampiro torna-se também vampiro. Não há como livrar-se das visitas perigosas desses monstros senão matando-os com lanças pontudas de madeira.



Extraído da edição de setembro de 1973 da revista Planeta.

Um comentário:

  1. Bom dia querida Aline..
    sempre que o assunto é vampiros atrai muita gente a leituras e filmes..
    desde o filme Vanhelsing, a entrevista com o vampiro e o famoso dráculo nas suas trocentas versões rsrs
    um assunto que tem seu misticismo..
    espero logo ver tuas criações nesta area..
    eu quero ver se faço algo sobre zumbis rsrs
    vamos ver né.. beijos e feliz sempre

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