sexta-feira, 20 de março de 2015

Te Wairoa - cap 9


O último capítulo de Te Wairoa traz um poema escrito por meu caro amigo blogueio, o poeta Samuel Balbinot, autor do blog "Lapidando Versos".
Há também a bibliografia consultada, pois "Te Wairoa" foi baseada em fatos reais.
Espero que o você tenha apreciado a saga e goste do último capítulo!

...beijinhos***





O silêncio costumeiro
Foi rompido pelos gritos...
Na montanha um verdadeiro
Estrondo acendeu os mitos;

O demônio que dormia
Por séculos nesta terra...
Acordou pela magia
Negra a trazer nova guerra;

A coluna de fumaça
Expelida pelo vulcão...
Deixou negrume na praça...
Medrou a população;

Bolas de fogo fatais
Sendo lançadas aos céus;
Lava nas águas termais
Já fazem de todos réus;

Fogo purificador
Para os tantos pecadores...
Queimados vivos no horror
Junto com as mortas flores;

Tamanha foi a explosão
Que romperam-se as crateras...
Dando vazão a erupção
Da lava de tantas eras;

O lago antes cristalino
Foi engolido em segundos...
Revelando tal destino
Escrito por moribundos;

Tantos detritos lançados
Cortando corpos ao meio...
Todos sendo empilhados
No solo de cinzas cheio;

Corpos perdidos na lama...
Isentos de qualquer vida;
Almas que um anjo embalsama
Para a terra prometida;

A ilha toda devastada...
Lama e corpos sem ação;
Uma terra castigada

Pela força de um vulcão;

                                                                                                                Samuel Balbinot


Último Capítulo

A erupção continuou furiosamente até às seis da manhã. Nisto, tão subitamente como havia principiado, a chuva de lama parou.

Cerca de nove horas da manhã, a chuva de lama tornou-se mais leve. O vento, felizmente para eles, mudou para o sul. Pouco depois, Clara e os inspetores viram Joseph McRae, o dono do hotel, e seus cunhados, chegando para ver se alguém havia sobrevivido ao incêndio da escola. Foram todos até as ruínas e encontraram a senhorita Ina Haszard e a velha Maria abrigadas sob alguns móveis no que tinha sido o meu quarto onde estava Lundius. 
Mas não ouviram nenhum som ou indicação de qualquer outra pessoa viva sob os escombros.

Por essa altura todo mundo estava deixando Te Wairoa, indo para Rotorua, o único lugar habitado de mais fácil acesso naquele momento. 

A dor era terrível para as pessoas Tuhourangi e Ngati Rangitihi. Eles perderam membros da família, os seus meios de subsistência e os ossos de seus antepassados em uma noite terrível. 


As irmãs Ina e Clara não queriam partir – tinham ainda esperança de haver mais algum de sua família nos escombros da escola – a princípio se recusaram, acabaram cedendo à persuasão dos demais.
Lundius acreditava que não havia muita chance de mais alguém ser encontrado vivo entre as ruínas, e que não podiam ter certeza se o inferno não recomeçaria com uma nova chuva de lama vulcânica. “Nosso dever está mais para nossas vidas do que para com os mortos” – disse pesaroso. 

As irmãs Haszard e os inspetores decidiram, por fim, seguirem, como os demais sobreviventes para Rotorua.

Quando o grupo, formado pelas irmãs Haszards e os inspetores, saiu de Te Wairoa estava na região de Tikitapu, encontraram, para sua alegria, Ted Robertson que dirigia um bugre. Ted disse ao grupo que Rotorua estava intacta, mas a maioria das pessoas tinha ido para Tauranga ou Oxford (que depois passou a se chamar “Tirau”).

O motorista do bugre levou o grupo de volta para Te Wairoa, e eles começaram a limpar os escombros da casa demolida dos Haszard. Logo Lundius descobriu que o corte que havia sofrido quando quebrou as janelas foi mais grave do que ele pensava, e que não podia fazer muita escavação.

Depois de um tempo, viram uma mão se mover através de uma abertura feita pela escavação, e encontraram a Sra. Haszard viva. Assim que a retiraram dos escombros perceberam que uma de suas pernas estava esmagada. Ela contou que seus filhos estavam todos mortos. Improvisaram uma maca para a senhora.

Lundius descobriu o seu cavalo, que tinha deixado no cercado perto da casa. O cavalo tinha vários centímetros de lama em cima dele, embora não estivesse ferido de alguma forma. 

Lembrou-se do vaso com a caixa no lavadouro. Ao verificar constatou que o lavadouro estava intacto, então abrindo cuidadosamente a caixa descobriu que continha bananas conservadas!

***

Na noite da erupção, um grupo de construtores de estradas estava acampado no lado leste da planície Kaingaroa. Somente Maoris foram empregados Os homens tinham uma boa visão do Monte Tarawera. Eles podiam ver o terrível espetáculo de fogo e da nuvem decorrente da montanha. Um dos maoris pensou que o fim do mundo havia chegado, e que era hora de ele fazer as pazes com o seu Criador, especialmente porque ele tinha sim um passado ruim. O maori orou com fervor e acabou por dizer sinceramente – "Oh Senhor, se você me permitir viver esta noite, eu vou dar-lhe uma libra!”.
Esse Maori sobreviveu, mas não se sabe se ele pagou sua promessa.

***

Mr. Harris Lundius foi convidado pelo Mr. James Stewart, para atuar como guia para uma excursão com a intenção de ir tão perto quanto possível do local da revolta do vulcão. Partiram de Rotorua na manhã de sábado, 12 de Junho. Quando entraram onde antes tinha sido a aldeia Te Wairoa, ouviram de debaixo de um monte, onde concluíram que seria um whare (casa maori) soterrado, os mais angustiantes gritos horripilantes.

Naturalmente, chegaram à conclusão de que alguém foi enterrado lá e apressaram-se a obter alguns implementos para efetuar um resgate. Depois de esforços frenéticos chegamos ao telhado do whare. Quando conseguiram fazer uma abertura, saltou para fora um grande gato preto! 

Esse gato deve ter mais do que sete vidas! – disse Lundius

***

Quando os sessenta e dois sobreviventes saíram da casa de Sophia e dos poucos outros edifícios de Te Wairoa que resistiram à violência daquela noite, até onde a vista alcançava rodeava-os uma total desolação. Cerca de cento e trinta e dois quilômetros quadrados de terreno estavam enterrados sob a lama.



Muito mais tarde, a Guia Sophia se lembrou de que o antigo chefe Rangiheuea tinha oferecido mel coletados em Tarawera para ela. Sabendo que era tapu (proibido), ela recusou. Todos que comeram o mel morreram na erupção, incluindo o jornalista inglês e o chefe Rangiheuea. 


Em algumas áreas as equipes de salvamento trabalharam dentro do lodo cinza-escuro que lhes batia pela cintura. A aldeia maori de Te Akiki, situada a apenas alguns quilômetros da montanha em erupção, tinha desaparecido sob uma camada de lama de dez metros de espessura. Uma outra aldeia, Moura, e seus habitantes nativos, desapareceu da mesma maneira.


Tama arduamente cavou por quatro dias até conseguir achar o whare de Tuhoto Ariki. O bruxo estava vivo, murmurava palavras de magia karakia – Tamaohoi protegeu e poupou seu libertador.
Ariki ter sobrevivido soterrado por quatro dias causou grande espanto nas pessoas.
O bruxo disse que estava no Reinga (mundo espiritual) até ser perturbado pelo feixe de luz. O feiticeiro não pareceu satisfeito por ter sido perturbado. Muitos maoris se sentiram revoltados com a sobrevivência de Ariki.
– Por que não o deixou lá onde estava? – perguntavam a Tama, e diziam que cobri-lo novamente de terra seria o melhor a ser feito.


Dado que a região era tão pouco habitada, o número de mortos pela erupção do Tarawera foi relativamente pequeno: cento e cinquenta e três pessoas. Além da chuva de lama, as cinzas vulcânicas caíram em regiões a duzentos quilômetros de distancia; o território atingido pelas precipitações foi de quinze mil oitocentos e cinquenta quilômetros quadrados, e estimativas calcularam que contivesse mais de mil e quinhentos milhões de metros cúbicos de cinzas.

Se bem que os Terraços Rosa e Branco tenham desaparecido, os turistas afluíram para ver os tempestuosos escapes de vapores e os lagos de lama fervente que brotavam da cavidade onde antes existia o lago Rotomahana. Sete anos depois da erupção, contudo, essa atividade cessou bruscamente. Água fervente começou a jorrar do solo e em duas semanas a área foi submersa. Com o tempo, a água esfriou e hoje existe um novo lago Rotomahana, vinte vezes maior que o antigo, ficando o local dos desaparecidos Terraços Rosa e Branco a cento e cinquenta metros de profundidade.



Sophia – continuou seu trabalho de guia-turística, quando ela se mudou para a vizinha Te Whakarewarewa. Em 1895, ela se juntou a uma Companhia Dramática, excursionando em uma viagem à Austrália. Em 1896 ela foi nomeada zeladora da reserva térmica Whakarewarewa.
Ela incentivou muitas mulheres locais a se tornarem guias-turísticas, ajudando a estabelecer essa ocupação como uma forma lucrativa de emprego para as mulheres da tribo Tuhourangi.
Sophia também se engajou fortemente na União Feminina de Temperança Cristã da Nova Zelândia, tornando-se presidente da filial de Whakarewarewa em 1896.
Sophia morreu em Whakarewarewa em 4 de dezembro 1911.  
Alguns de seus muitos descendentes ainda vivem em Whakarewarewa, e uma rua em Rotorua leva seu nome.

A Sra. Haszard curou-se dos ferimentos e viveu até os oitentas e dois anos.

Clara perdeu o vislumbre por Auckland e cidades grandes e se engajou em perpetuar a memória da Te Wairoa

Tama veio a conhecer uma jovem maori quatro anos mais jovem que ele, por quem veio a se apaixonar e se casaram.

Tuhoto Ariki debilitado precisou ser levado para o hospital de Rotorua, onde foi tratado por médicos e enfermeiros. Mas veio a falecer. Apesar de seus 104 anos de idade os maoris disseram que ele viveria por muitos mais anos, se no hospital não tivessem sido cortados seus cabelos – como todos os maoris sabem é um assunto muito sério cortar os cabelos de um feiticeiro tohunga.


***


A erupção da Montanha Tarawera aconteceu há mais de 100 anos. 
Turistas de todo o mundo ainda visitam a montanha. As pessoas podem até mesmo ser “transportadas para a história da erupção” no Museu de Rotorua, explorando o local escavado da aldeia de Te Wairoa, conhecida hoje como "The Village Buried" (A Vila Enterrada), e conhecer os descendentes dos sobreviventes que vivem em Te Whakarewarewa.



A região antes devastada e coberta de lama está hoje de novo verde e bonita. Arbustos, musgos e pinheiros cresceram e ocultaram a devastação do monte Tarawera, mas não se pode olhar para a montanha sem um arrepio de medo – ou cruzar os belos lagos sem ficar um pouco na expectativa de uma súbita nova aparição de Waka-Wairua - A Canoa-Fantasma. 



Bibliografia consultada

teara.govt.nz
rotoruamuseum.co.nz
paperspast.natlib.govt.nz
elibrarynz.com
nzhistory.net.nz
tatuagem.com.br/maori/cultura-maori
msnucleus.org/
nzetc.victoria.ac.nz/

4 comentários:

  1. Boa tarde querida Aline..estive ausente da net por esses dias... logo te respondo o email tb que acabei de ver aqui..
    mas que bacana que ficou tudo.. uma bela mesclagem das fotos, da poesia que fiz com muito gosto para tua novela e o final da mesma tão grandiosa..
    são temas para serem sempre refletidos pois perto do poderío da natureza ainda somos bem pequenos.. temos de tomar consciência de que tudo simplesmente é.. tudo acontece quando existe algum desequilibrio.. nada é para destruir.. é apenas um ajuste assim como nós.. carma não é castigo.. é equilibrio.. te desejo um lindo dia.. beijos e até sempre

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  2. Muito lindo o post de nosso amigo e poeta Samuel Balbinot!
    Somos nada perante a força da natureza, somos grãos de areia, e muitos ainda assim se sentem melhores e Grandes!
    O que está traçado em nossas vidas temos que superar, faz parte da nossa passagem pelo planeta!
    Lindo tudo :o final da novela, as fotos!
    B R A V O!
    bjus e linda páscoa!
    http://www.elianedelacerda.com

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  3. Passei aqui para me atualizar e nossa quanta coisa. rss.;
    A produção tava a mil hein?
    Prometo que voltarei para ler tudinho.
    Estou com pouco tempo para escrever e visitar, mas estou me esforçando.
    Beijão,

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  4. Bom dia Aline.
    Muito interessante seu blog.
    Ja seguindo aguardo voce no
    Espelhando.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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