sábado, 7 de março de 2015

Te Wairoa - cap 6




Capítulo Seis

“Que diabos foi aquilo que aconteceu no lago, Kelleger?” – o deputado questionou ao padre.

“Os nativos estão dizendo que se trata de uma canoa-fantasma, um sinal de agouro!” – respondeu o clérigo.

“Ora, me admira você, um padre católico, vir me falar em crenças nativas sobre maldições, mau agouros e fantasmas!”

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia, deputado” – Kelleger citou Shakespeare.

“Era só o que me faltava! Vir de Auckland para assistir truques de nativos e ouvir um padre apregoar maldições maoris!” – esbravejou o politico.

“Um truque nativo?”

“Claro que se trata de algum truque! Soube que há um líder local, um feiticeiro, que anda apregoando coisas contra o turismo e os ocidentais! Trata-se de alguma peça que nos quiseram pregar!”.

“Eu sei o que eu vi, deputado! E não vejo como poderiam criar ilusões naquele ponto do lago! O senhor também viu, e o viu muito bem!”

“Eu sei o que vimos! Vimos nativos usando de truques sob a névoa para espantar a quem julgam como inimigos!”.


Os turistas obtiveram de algumas pessoas, dentre elas Joseph McRae, a confirmação de que nenhuma outra embarcação partira de Te Wairoa naquela manhã.

A Sra. Sise na mesma noite incluiu em uma carta a seu filho em Dunedin o relato sobre a visão da canoa-fantasma.

Pe. Kelleger e Josiah Martin fizeram desenhos da canoa.

***

“Canoa-fantasma – é do que estão falando no povoado!” – Mr. Bainbridge comentava com McRae, dono do Hotel Rotomahana – “Eu estive um dia antes naquele lago!” – lastimou-se o jornalista – “Adoraria ter estado entre os tripulantes que avistaram a canoa, e tê-la visto com meus próprios olhos! Isto me parece uma história fantástica, os londrinos certamente ficarão muito curiosos sobre algo assim!”.

McRae ficou preocupado com a repercussão negativa, que tal assunto poderia trazer para o turismo local.

“Ora, Mr. Bainbridge! Tais coisas não existem! Como lhe disse, há alguns dias, não existe criatura mais supersticiosa no mundo do que um maori! Eles teem todas essas lendas e são muito impressionáveis! De fato – houve um comportamento, ou fenômeno diferente nas águas antes de partirem e... Bem, isso mexeu com o imaginário deles! O que provavelmente ocorreu não foi nada mais do que ilusões que criaram ao ver pequenas ondas sob a névoa do lago! Pense bem se não seria, para alguém tão supersticioso quanto um nativo, confundir uma pequena onda, a distância de um quilômetro, entre névoas, com um barco!” – e prosseguia o dono do hotel – “Li alguns de seus artigos, admiro seu trabalho jornalístico e o senhor, apesar de bastante jovem, é um profissional muito credenciado, Mister! Mas ouça o conselho de alguém, mesmo que não seja companheiro de profissão, mas alguém mais velho e com experiência – se me permite! Tal tipo de notícia soa sensacionalista ao público mais maduro e... Logo acaba caindo em descrença! Além do que... somos cristãos e sabemos que os espíritos não podem voltar da mansão dos mortos, muito menos em canoas!”.

O jornalista ouviu o empresário, e deixou-o pensar que o havia convencido.

O jovem inglês percebeu que no fundo a preocupação de McRae era que a notícia de que uma canoa-fantasma lendária fora vista poderia ser ruim para os seus negócios! Sim, os maoris poderiam ser “as criaturas mais supersticiosas do mundo”, como dizia o dono do Hotel, no entanto, um misto de turistas, não influenciáveis pelas crenças nativas afirmava ter visto a tal canoa – incluindo até mesmo um sacerdote cristão! E... Ora, não dá pra confundir uma onda com roupas de linhos, penas, remos... Fossem apenas maoris naquele barco!

Edwin respondeu a McRae com uma citação bíblica, que fez o dono do hotel acreditar que o convencera– “Assim o homem se deita e não se levanta; até quando os céus já não existirem, os homens não acordarão e não serão despertados do seu sono. – livro de Jó, capítulo catorze”.


***

Mais tarde, no mesmo dia do avistamento da canoa-fantasma, alguns maoris de Te Wairoa, dentre eles a guia Sophia, foram ao whare (casa) do Tohunga Tuhoto Ariki.

Ariki surgiu altivo e majestoso com seu manto cerimonial de penas quívi.

“Vocês foram desdenhosos com meus avisos e advertências! Trataram-me com grosserias! Voltaram as costas aos nossos ancestrais! Tenho assistido à ruína da tribo Turourangi! Vocês insistiram em beber do álcool dos brancos, em dançar as danças deles e a se corromperem com o dinheiro deles! Transformaram nossa terra em lugar de férias para turistas! Exploram-na por dinheiro, sem pagar o devido respeito aos seus antepassados! Sim, os Turourangi caminharam, apesar de todas as minhas advertências, a passos apressados, para a desmoralização e perdição! Nossos jovens se tornaram debochados e bêbados! Eu incessantemente avisei a vocês! Agora Waka-Wairua, a canoa fantasma veio! É um aviso de Waka-Wairua! – ESTA TERRA SERÁ ARRASADA!”.

2 comentários:

  1. Nossa!!!!!!!!!!!!!
    Muitas vezes preferimos não acreditar em algumas canoas-fantasmas, para não atrapalhar nossa vida, nossos negócios, nossa posição social, mas tenho certeza de que é verdadeira essa canoa....aguardarei o próximo capítulo!
    Acreditamos naquilo que nos interessa!!!!!
    Bjus amiga linda!
    http://www.elianedelacerda.com

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  2. Boa noite querida Aline..
    é muito empolgante ler, claro eu já o li né rsrs
    e tudinho.. mas foi uma criação muito bela e trabalhosa.. que tu registre a mesma tudo certinho na bn..
    foi a parte que mais gostei seguido da explosão.. deixa um ar de mistério e o saber o que virá depois né.. beijos meus e uma linda noite querida

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