quarta-feira, 4 de março de 2015

Te Wairoa - cap 5



Capítulo Cinco

No dia 31 de maio um grupo de turistas esperava para embarcar em um cruzeiro pelo lago com a famosa guia Sophia.
Entre eles havia três outras mulheres maori, seis maori remadores, Dr. Ralph, um deputado de Auckland, Pe. Kelleher, um sacerdote católico, também de Auckland, um turista chamado Josiah Martin e Sra. R. Sise, de Dunedin e seu marido e filha, que estavam visitando Te Wairoa.

 Padre Kelleher conversava com o Deputado Ralph. 
Dizia o padre – “Estes maoris são um povo admirável. São extraordinariamente inteligentes e profundamente espirituais. Mas de vez em quando fazem alguma coisa que nos enche de perplexidade! Eu havia feito alguns favores à família de uma velha senhora maori e ela me deu de presente um ‘tiki’ de diorito: uma espécie de berloque a que os maoris dão muito valor. Como muitos tikis, esse era uma herança de família, que vinha passando de mão em mão havia gerações. Antes de dar-me o presente, a senhora conversou longamente com o tiki, como se ele fosse uma pessoa humana. Explicou quem eu era e o que havia feito pela família a fim de que ele pudesse compreender por que me estava sendo dado. Terminou dizendo que iria rezar constantemente para que ele fosse feliz em sua nova vida!”.   

Os turistas esperavam para entrar no barco. Mas, antes que tudo estivesse pronto para a partida, o nível do lago subiu rapidamente, cercando o grupo com água e, em seguida, a água diminuiu ainda mais rapidamente. Diminuindo tanto que o riacho Wairoa secou, expondo seu leito lamacento. Em seguida, a água correu de novo, com "um som gritando ao longo das margens do lago".

Os remadores reagiram violentamente a esse fenômeno e, a princípio recusaram-se terminantemente a empurrar o barco para o lago.
O grupo de turista não entendia a demora.

Sophia se aproximou dos remadores e disse em tom baixo – “Como assim não querem sair com o barco?”.

“Te Paea, você viu o que as águas fizeram” – respondeu, também em voz baixa, um dos remadores.

“Não podemos deixar de levar essas pessoas aos Terraços! Há, entre eles, um político e um padre de Auckland, gente que veio de longe, gente importante! E vocês se esquecem de que são os passeios até os Terraços que nos fornecem o sustento?” – Sophia os persuadiu.

Houve um silêncio momentâneo entre os remadores. Um dos barqueiros disse sombriamente: "Muito bem, nós podemos morrer, mas uma vez, então vamos todos descer juntos".


Havia uma grande névoa no lago naquela manhã.
Depois de navegar por algum tempo, de repente, viram a uns dois quilômetros de distância, uma canoa. Primeiramente, enquanto ainda estava distante, esta lhes pareceu ser uma pequena canoa, com um único canoísta. 
O barco foi saudado, com muitos acenos dos tripulantes do barco de Sophia, mas não houve nenhuma resposta.  
O grupo observou a canoa acelerar silenciosamente através das águas serenas do lago Tarawera à sombra da Montanha. 
A canoa estranha e misteriosa se aproximava com seu contorno fantasmagórico nas brumas da manhã que um sol de inverno não conseguia dissipar.
Mas à medida que se aproximou perceberam-na como uma grande canoa de guerra maori tradicional. Os observadores não tiveram dificuldade em discernir a fileira dupla de ocupantes da embarcação onde uma dúzia de fortes guerreiros remavam em trajes tradicionais de linho. Tinham suas cabeças inclinadas e os cabelos plumados, com penas de huias e de garças brancas, como usado para funerais maoris. Alguns dos tripulantes da canoa de guerra estavam em pé.
A canoa de guerra chegou perto o suficiente de forma a ser possível ver o sol brilhando sobre as pás de seus remadores. 

Sr.ª Sise e sua família se extasiaram com a canoa de guerra e seus tripulantes em trajes tradicionais – “Que linda! É um show tradicional!” – exclamou a turista.

“Que esplendia embarcação!” – exclamava Pe. Kelleger!

“Olhe esses trajes!” – dizia o deputado.

Vários dos turistas se voltavam para Sophia – “Sempre fazem essa apresentação tradicional?”.

Mas a guia estava perplexa – “Não... Eu nunca a vi. Não soube sobre planejarem alguma apresentação”.

Mas se a canoa de guerra trazia êxtase aos turistas, algo muito diferente acontecia aos remadores da canoa de turismo. Tomados de pavor os tripulantes maori murmuram entre si – 

“Atua! Atua!” 

(Espírito! Espírito!) – palavras incompreensíveis aos turistas.

– e abaixaram as cabeças para não verem a canoa de guerra.

Para os maoris aterrorizados estas eram as almas dos defuntos sendo transportados para a Montanha dos Mortos.

Ao chegar ainda mais próximo, cerca de um quilometro de distância, perante os olhares incrédulos dos tripulantes as cabeças dos guerreiros à bordo da canoa tradicional se transformaram em cabeças de cães! E agora, na embarcação que surgira dentre as névoas, era treze o número de tripulantes.

Então, tão subitamente quanto apareceu, a canoa de guerra desapareceu perante os olhares incrédulos. 

Os turistas ficaram perplexos. E sua perplexidade aumentou quando não obtiveram da tripulação maori nenhuma informação sobre a misteriosa canoa

Os remadores permaneceram calados durante o trajeto de volta.

Sophia olhou para o monte Tarawera e viu uma nuvem de vapor branco pairando sobre a montanha. Então murmurou para si mesma – "Eu não acho que veremos os Terraços de novo." – tendo sido ouvida pela Sr.ª Sise.

Quando chegaram a terra, os remadores e demais tripulantes maoris, do barco de turismo se tornaram mais faladores. 
Em poucos minutos a notícia difundiu-se na povoação de Te Wairoa:

“Eles viram Waka-Wairua!”
“Eles viram a Canoa- Fantasma!”

A aparição de Waka-Wairua, a canoa-fantasma, fazia parte das lendas da tribo Tuhourangi como sendo um presságio de morte – se bem que a canoa nunca tivesse sido vista por nenhum dos habitantes ainda vivos da região.



Um comentário:

  1. Muito boa tarde querida Aline..
    esta parte dos fantasmas no barco foi bem intrigante e deverás em alguns casos acontecer..
    pois muito ouvimos sobre coisas de tal tipo e não podemos esquecer dos tantos barcos e aviões que foram engolidos pelo triangulo das bermudas..
    turistas são sempre turistas.. dão tudo por algo novo.. e os gguias as vezes entram em ciladas..
    quando fui a chapada diamantina fiz uns passeios com um casal carioca e o doido queria tanto um diamante que encheu a paciencia dos guias e levaram ele a cidade fantasma rsrs
    mafia do diamante né.. lá sim é cidade fantasma.. não fui junto pois estava vindo embora senão teria ido..
    beijos e sucesso com as postagens desta bela obra..
    até sempre

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