A Velha dos Gatos
Capítulo 1
Era em uma pequena casa antiga, com aspecto de estar abandonada por anos sem receber novos cuidados e com os efeitos da ação do tempo, de paredes verdes manchadas, telhas antigas imundas, janelas de madeira com a tinta descascando e alguns vidros faltando. No terreno, lotado de tranqueiras, o mato crescia. A casa parecia uma ilha no meio dos amontoados de cortiços e prédios de dois ou três andares. Era onde “a velha” morava.
Chamavam-na “a velha”, pois não sabiam seu nome. Morava há muitos anos sozinha e não recebia visitas de qualquer espécie. Era uma senhora solitária.
Não era dada a sociabilizar com os vizinhos. Nas poucas vezes que saía de casa, indo ao mercadinho ou à padaria do bairro, estava sempre com a expressão fechada.
Usava sempre os mesmos sapatos velhos, vestidos com estampas de flores, que pareciam terem sido comprados em brechó, meias-calças num tom um pouco mais escuro que a pele e os longos cabelos sem pintar sempre trançados.
Um dia abrigou um gato preto, que passou a ser sua companhia. Gostava do bichano atrás dela e se esfregando em suas pernas. Agradava-lhe a companhia do animal de tal modo que começou a abrigar todos os gatos de rua, que por ventura, aparecessem. Dessa forma que passou a ter em casa mais de cem felinos.
Ela passou a sorrir com eles, vendo suas brincadeiras e bagunças. Adorava chegar com o saco de ração e ter sua centena de gatos a rodeando.
A casa passou a ter as cortinas, sofás e todo móvel estofado rasgado. Deixava os gatos fazerem tudo o que queriam. Afinal, eram eles que alegravam seus dias, que já não eram mais solitários, Ela tinha aos gatos.
Se um dos mais de cem gatos não estivesse em casa ela notava prontamente sua ausência.
E foi por conta dos gatos que passou a ser chamada de “A Velha dos Gatos”. Achavam-na esquisita, estranha, esquizofrênica com todos aqueles gatos.
A vizinhança passou a reclamar com ela por conta dos felinos, que muitas vezes andavam pelos cortiços, deixando sujeiras, roubando sacos de lixo com restos de comida, ou se espalhavam pelos telhados miando durante a noite, especialmente quando havia cio. Nas vezes em que passavam em frente, os vizinhos resmungavam o quanto cheirava mal a casa da velha.
Houve uma queixa junto à prefeitura, da qual a velha recebeu notificação.
A velha que cada vez mais amava os gatos, aumentava cada vez mais também sua aversão às pessoas. Por que se incomodavam tanto com os pobres bichinhos? Que tanto mal faziam? Era preciso tanta reclamação só por conta de um miado, uma sujeirinha à toa, ou porque alguém foi deixar logo resto de peixe num saco de lixo pendurado?
A velha passou a ver todos os vizinhos como reclamões rabugentos. Aquela gente dada à pouca-vergonha, que implicava e perseguia os pobres bichanos inocentes! Como, afinal, podiam não gostar dos amáveis bichos?
Acontece que, vez ou outra, um dos gatos desaparecia, nunca mais retornando! Foram eles! Os vizinhos! Aquela gente ruim matou o bicho e jogou fora! Jogaram no lixo!
Uma lista de suspeitos passava por sua cabeça. Lembrava com ódio, cada um de quem já ouvira reclamações dos gatos.
Aconteceu que um velho ranzinza de um dos prédios vizinhos andou se queixando “do gato amarelo”, costumava roubar carne no apartamento dele – dizia.
Alguns dias depois o gato amarelo sumiu.
Aquele maldito velho! Ele matou meu pobre gato!
Não suportando mais acatar que os vizinhos matassem seus gatos ela foi ao apartamento do velho falar com ele.
O velho não havia matado o animal, mas sentiu satisfação ao pensar na possibilidade de provocar a velha dos gatos.
"Pois fui eu quem matou o gato! Esse animal é criação do Demônio! Gatos são do Demônio! Mas esse, não vai mais roubar carne de ninguém! Todas essas pragas de gatos deveriam ser mortas" – disse o velho.
A velha ouvindo isso foi sendo tomada pela raiva e pelo ódio. Sentia o sangue ferver! Maldito velho! Velho desgraçado! Tirou a vida do bicho, que não faz nenhum mal!
O velho sorria irônico e satisfeito assistindo a expressão indignada da velha, até que lhe deu as costas num ato de desprezo.
Impulsionada pela raiva a velha apanhou o extintor de incêndio do corredor do prédio e desferiu um golpe com toda a força que pode contra a cabeça do velho que lhe dava as costas.
O velho caiu morto e uma poça de sangue se formou em torno de sua cabeça. Seus olhos estavam esbugalhados e as feições pareciam as de um rosto surpreso. A velha sentiu satisfação vendo o velho assim. Não tinha mais graça agora, não é mesmo? Não ria e debochava mais do gato que matou! Sim! Ele mereceu! Mereceu isso! Como pode dizer aquilo dos gatos?
A velha ficou ali assistindo à imagem do velho ranzinza morto, até que o auge de sua fúria passasse. Começou então a se preocupar em ocultar o que havia acontecido.
Friamente ela limpou a cena do crime o melhor que pode. Mas havia o problema de como sumir com o corpo sem ser vista! Ela, então, foi à cozinha do apartamento do velho, encontrando uma faca de cerra nas gavetas, com a qual cortou o corpo em diversas partes. Teve tempo suficiente para isso, pois os moradores dos outros dois apartamentos estavam fora e só chegariam à noite.
Ela colocou os pedaços do corpo do velho dentro de um grande saco preto de lixo. Quem vai notar logo a falta de um velho rabugento e sozinho desses? Tudo vai ficar bem! Quando derem por sua falta, será tido como desaparecido! Que ironia seu velho imundo! Agora está num saco de lixo, assim como meu pobre gato que você matou!
Mas depois de conseguir retirar o corpo do prédio onde ela o despejaria? Não podia ser encontrado!
Decidiu então, por algo, que lhe pareceu uma justa vingança.
Levou o saco com o corpo esquartejado do velho para sua casa.
Abriu o saco no chão da cozinha, dando o cadáver como carne fresca para seus gatos.
A essa altura sentia algum remorso por ter matado o velho. Ele merecia morrer, é verdade. Mas isso fazia dela uma assassina! Tudo bem, isso ficaria no passado, seria esquecido. Com o tempo ela não se lembraria mais dele!
Continua...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQ coisa mais assustadora.
ResponderExcluirAcho errado ela matar uma pessoa, claro!!! Porém, q vizinhos chatos tb! Deixem ela e seus felinos em paz! É! Como defensora dos animais e principalmente dos gatos, é assim q penso. Espero q os bichinhos não morram no final da história :|
Beijos
Vai começar..... estou viajando aqui kkkk.
ResponderExcluirBeijo
Ain me vejo num futuro nao tão distante, com uma casona cheio de gatos! nao velha, nem desleixada, nem assassina, muito menos louca, pq, coitada, ela nao deveria saber que uns bixanos quando crescem vai embora da casa, viver como gato de rua, o que aconteceu com TODOS meus gatos (fora os q faleceram)
ResponderExcluirMas o q mais gostei foi como a velha se expressava, falava,com um tom frio, sem sentimentos! Vai ser uma boa historia!!! ah vai...
483 kusses..~^~