quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Assassino do Opala - cap 2



Capítulo 2

No dia seguinte o professor Charles Mendez compareceu à delegacia. 
Os policiais colheram seus dados e começaram a interrogá-lo.

“Então, senhor... Mendez! O senhor afirma ter visto um carro preto com luzes apagadas vagar desengrenado até parar exatamente à frente do seu caminho, fechando metade da estrada e neste carro havia um amontoado de pessoas recentemente assassinadas e decapitadas?”
“Sim... Era um opala diplomata, creio que modelo do ano 1989”.
“O senhor nos informou um número de celular. Por que o senhor não ligou imediatamente após presenciar o ocorrido, tendo esperado até chegar à sua casa?”
“Eu fiquei muito assustado, o senhor pode imaginar!”
“O senhor estava muito assustado para telefonar, mas não para reparar o modelo exato do carro?”
“Eu sou aficionado em carros... Não me era difícil saber o modelo”.
“Em que horário o senhor avistou esse opala modelo comodoro preto?”
“Diplomata! Eu disse modelo diplomata! Foi por volta das onze e vinte da noite! Deus do Céu, sou inocente! Alguém cometeu assassinatos bárbaros!”
“Ninguém disse que o senhor não seja inocente! Verdade, o senhor disse diplomata! No entanto, sua história é um tanto quanto estranha! Quanto tempo o senhor gastou desde o momento em que viu o opala até a sua casa?”
“Não mais que vinte minutos”
“Vinte minutos é um tempo consideravelmente curto daquele ponto da estrada até o seu endereço”.
“Eu corri, pois estava apavorado”.
“Deveríamos lhe dar uma multa por excesso de velocidade? O senhor costuma desobedecer às leis?”
“Deus do Céu! Eu fugi apavorado! Alguém matou e decapitou aquelas pessoas!”
“É melhor o senhor se acalmar, senhor Mendez”. – disse o policial em tom que soava ameaçador.
“Desculpe-me” – o professor respondeu brando.
“Então, por que, a viatura não encontrou nenhum sinal desse opala que o senhor diz ter visto, nem corpos decapitados, nem nada em absoluto? Como um carro preto e apagado fica atravessado numa estrada, ainda em horário de bom movimento e nenhum outro motorista  bateu nesse veículo parado, num ponto, que, acrescentemos, é escuro, nem houve nenhuma outra queixa sobre ele, senão a sua?”
“Eu não sei! Alguém pode ter tirado o opala de lá!”
“O senhor, por acaso, crê que a polícia não tenha o que fazer à noite?”
“Não senhor, senhor policial”.
“Passar trote de casa para a polícia vai fazer com que o senhor durma no xadrez. Como podemos saber que sua intenção não era mais do que uma brincadeira e falta de respeito, desacato com a autoridade? Que sua intenção não era desviar a atenção da viatura policial de alguma outra coisa? O senhor ficará detido até que a polícia averigue melhor essa sua história”. 


Os policiais o colocaram para passar a noite em uma cela especial, devido a ter curso universitário. Pela manhã foi chamado para o gabinete do sargento Bernardi.
Douglas Bernardi era um homem alto, corpulento, de cinquenta anos, cabelos começando a se tornarem grisalhos, olhos castanhos e ar de ser um servidor público exemplar.

“Bom dia, senhor... Mendez! Ou seria mais adequado chamar-lhe ‘professor’? Qual matéria o senhor leciona?”.
“Bom dia! Leciono Física na universidade. Pode me chamar como preferir...” – o professor olhou para o policial como quem perguntasse seu nome.
“Sargento Bernardi”. – “É preciso ter uma boa cabeça para lecionar Física na Universidade! Bem, estou a par de seus dados: Professor universitário, sem antecedente de passagem pela polícia... O senhor me parece ter um perfil honesto, professor. E vou deixá-lo a par da situação! O senhor se mudou para esta cidade não faz muitos anos, não é mesmo?”.
“Sim, mudei-me, digo, nos mudamos, minha esposa e eu, faz cinco anos para cá”.
“Entendo. E, portanto, é provável que nunca tenha ouvido nada sobre o ‘Assassino do Opala’!”.
“Não”.
“Nem senhor, e certamente os jovens policiais com quem o senhor conversou. Pois bem, vinte e três anos atrás, em 1990, eu já estava na polícia. Naquela época correu por bastante tempo rumores de um suposto ‘Assassino do Opala’. Essas coisas costumam deixar de ser comentadas após poucos anos. Na época a polícia acreditou ser uma dessas... lendas urbanas! Os bairros que são atravessados por aquela estrada não são exatamente os mais pacíficos, se o professor me entende. Sei que entende. A polícia acreditou a principio que a história sobre o tal ‘Assassino do Opala’ fosse um folclore que surgiu do fato de muitas pessoas terem desaparecido em datas e locais próximos, acreditávamos que se tratava de casos sem ligação entre eles. Até porque, havia histórias dizendo que o tal assassino tinha cabelo preto e olhos escuros e também histórias de que seria loiro e com olhos claros! O imaginário popular também não tardou a justificar essas contradições. Diziam que o Assassino do Opala, sabendo de sua procura havia pintado o cabelo e passado a usar lentes! Ainda havia contradições sobre o que ele fazia com suas vítimas e também não tínhamos um perfil preferido de vítima! O Assassino do Opala parecia ser um psicopata agindo sem um padrão, e, portanto, irreal. O professor está compreendendo?”.
“Sim, senhor”.
“Esse folclore não incomodava tanto à polícia, afinal, seria apenas folclore, e as pessoas estavam mais cuidadosas, e isso é bom quando se enfrenta uma série de desaparecimentos. Não preciso dizer que havia o fato de ninguém aceitar carona de um opala” – mencionou a carona achando graça – “Infelizmente, professor, sua história se torna muito estranha ao passo que não nos foi possível encontrar um mísero vestígio de autenticidade nela. Mas ela me preocupou! Enfim... Aconteceu que o Assassino do Opala foi encontrado algum tempo depois”.
“Vocês o prenderam?”
“Não, infelizmente não. Não conseguimos por as mãos no desgraçado vivo! Ele foi encontrado morto – o que depois se verificou ter sido por overdose – dentro do veículo, o opala. Havia corpos decapitados no banco de trás. Aparentemente ele havia se picado – era viciado em heroína – e quando saiu para despachar os corpos, teve a overdose no caminho. Ele estava com o carro desligado e desengrenado aproveitando o fato da rua ser inclinada, provavelmente para evitar barulho e a possibilidade da descoberta de seu esconderijo. O carro seguiu desengrenado até o exato local em que o senhor afirma ter visto um opala, igualmente preto, modelo diplomata e recheado de corpos”.
“Então, o Assassino do Opala está fora de ação, está morto?”
“Há mais de vinte anos, professor”. 
“O que houve com o carro, com o opala?”
“Foi levado para alguma garagem da polícia e, bem, hoje deve ser apenas um monte de ferrugem!” – o sargento Bernardi prosseguiu dando fim à conversa: “Veja bem, eu vou liberar o senhor, professor. Mas o senhor tenha ciência de que estará sob nossas vistas. Eu receio que possa haver algo de verdade nesse seu relato, apesar de parecer tão estranho! Receio que alguém possa estar querendo 'ser um novo Assassino do Opala', ou trazer de volta o medo acerca desse criminoso! Creio que seja melhor para o senhor não passar por aquela estrada, pelo menos nos próximos dias”. 

O professor Charles Mendez mudou seu itinerário para o trabalho, evitando aquela estrada. Não houve mais notícias sobre um opala preto naqueles dias. Ninguém além de Charles vira o opala!



Continua...

2 comentários:

  1. Não bastasse ver corpos decapitados, ainda é tem q ser taxado de mentiroso. :x
    Adoro o desespero d tentar mostrar q oq diz é verdade. xD
    Ninguém queria estar no lugar dele.


    Esperando o próximo
    Bjs =D

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  2. Professor se ferra até em estória de terror.
    kkkk

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