domingo, 22 de julho de 2012

Uma História de Cinema!

[ O encontro narrado na postagem de hoje é uma história fictícia!]

Nanna, Ditte e eu queríamos assistir a um filme, só que descobrimos que já tinha saído de cartaz dos cinemas aqui da zona sul do Rio, mas ainda estava em exibição em cinemas da Barra da Tijuca. Resolvemos fazer um passeio até lá e pegar uma das sessões. Decidimos ir de taxi, já que o “Ditte-móvel”, digamos, estava precisando de reparos.
Pegamos um taxi aqui em Laranjeiras com destino à Barra. Um trajeto um tanto longo, ainda mais com o transito do Rio como anda! =/

O taxista, já um senhor e muito simpático, guiava enquanto Nanna, Ditte e eu conversávamos e o assunto entre nós ainda era nossa recente viagem à Polônia.

O Senhor sorriu e disse “Eu sou polonês!”

“Cześć, jak się masz?” Mandei o meu “Oi, como vai você?”, uma das poucas coisas que consegui decorar em polonês!

“Esse mundo é mesmo pequeno!” – diria Dona Katarina Beatriz, minha mãe, usando uma das frases de seu repertório frequente!

Que incrível coincidência encontrarmos um senhor polonês! Talvez se não estivéssemos comentando sobre a viagem à Polônia teríamos viajado no taxi dele sem sabermos de sua nacionalidade!

“O Senhor se mudou faz muito tempo para o Rio?” – perguntou Nanna.

“Eu me mudei para o Rio de Janeiro quando eu tinha quase trinta anos, no final dos anos sessenta”
Isso explicava o sotaque pouco carregado do simpático taxista.

“Espera um pouco!” – pensei
“Matemática” não é minha matéria favorita, mas dá pra fazer uma conta!
“Se no fim da década de sessenta ele beirava os trinta, tem hoje cerca de oitenta... Será que este senhor estava na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial?”

“Mas eu não me mudei da Polônia direto para o Rio, minha filha! Depois da Guerra eu vivi muita coisa e passei ainda vários anos em Israel! De lá que me mudei para cá!” – complementou o senhor enquanto eu ainda pensava como, e se deveria lhe perguntar sobre a guerra! Como se pergunta uma coisa dessas afinal?! E... “Israel?” Estávamos em companhia de um judeu sobrevivente do Holocausto (uma das mais atrozes páginas da história da humanidade)? Sim, estávamos!

“Vocês visitaram Auschwitz? Foi lá que eu ganhei esse número...” (Auschwitz é o mais famoso antigo campo de concentração nazista)
O senhor puxou a manga da blusa exibindo um número marcado em seu antebraço esquerdo.
“...Se vocês quiserem jogar no bicho é um bom palpite!” – disse com um sorriso no rosto.

Certamente esse bom humor demonstrado ajudou esse senhor a chegar aos oitenta anos!

(Por sinal o “humor judaico” é famoso! E foi muitas vezes uma força para esse povo suportar dores, e uma arma inteligente de defesa! E quantos dos melhores comediantes são judeus? Um exemplo atual? Adam Sandler! Adoro todos seus filmes!)

Nanna, Ditte e eu comentamos sobre como nos emocionamos visitando os museus memoriais do Holocausto e o que vimos por lá! E o senhor nos contou sua história! Contou de sua infância antes da Guerra. Como perdeu a família morta pelos nazistas. E como fugiu de soldados quando tinha menos de dez anos, sendo atingido por um tiro no abdômen durante a fuga. Dos vários campos de concentração pelos quais passou. De após a Guerra ser preso por estar num navio que levava ilegalmente refugiados judeus para Israel... Sua vinda para o Brasil...
E quando já morando aqui, vinte e quatro anos depois de receber o tiro, teve a bala removida do abdômen...

Ditte me olhou com aquele olhar meio incrédulo de que o senhor vivera tanto tempo com uma bala alojada no corpo e eu a olhei com aquele outro olhar, o repreensivo, que quer dizer “Ele não está inventando, Ditte! E você não diga nada do tipo...”.

“EU NÃO ACREDITO!” – Gritou a Nanna!
Diria até que ela berrou isso dentro do taxi nos matando de vergonha! E Ditte a olhou com cara de quem “quase” sentiu vontade matá-la!
“Errr... Ela quer dizer que está muito admirada, senhor ^^” – eu disse (enquanto dava um apertão-vingança na perna da minha amiga)

Ah! Sobre o filme que fomos assistir? Eu diria que foi bom! Mas nada se comparado com tudo o que ouvimos daquele senhor taxista!


É isso!
...beijinhos***


Recado: E isso é muito importante! Apesar de haver um “tom bem-humorado” no texto, não o tome como algo desrespeitoso às vítimas do Holocausto! O encontro com o taxista é fictício. Mas de fato minhas amigas e eu chegamos recentemente de viagem à Polônia (vide postagens anteriores). E lá visitamos muitos locais memoriais do Holocausto. É imensa minha admiração pelo povo judeu e sua história! Recentemente vi uma informação divulgada na Internet em que eu não consegui acreditar! Falava sobre a grande porcentagem de brasileiros que sequer sabem “o que foi o holocausto”! A memória desse evento é de extrema importância para toda a humanidade e deve ser preservada!  Visitando a página do “Jornal Alef” (publicação judaica) no Facebook me emocionei profundamente com uma entrevista de um senhor sobrevivente do holocausto, morador do Rio de Janeiro e ex-taxista, na qual me inspirei para criar o texto de hoje! Eu teria me sentido muito privilegiada e honrada se tivesse acontecido um encontro como o narrado no texto.