Capítulo Quatro
Algumas semanas depois...
– “Senhora Lempke, eu poderia dormir aqui, se a senhora quiser. Creio que poderia, assim, auxiliar mais com o Damon” – Melinda disse à Irene, quando estava para ir, após o dia de serviço.
– “Não tomaria todo o seu tempo? Digo, você é jovem e...” – dizia Irene.
Melinda sorriu e, interrompendo, disse:
– “Não tenho tempo para namorados e coisas assim, Senhora Lempke. Nesse momento da minha vida estou mais interessada em economizar. Tenho poucos pertences, que poderiam caber em qualquer canto. E se eu não precisar mais pagar pelo quarto onde estou morando...”.
Irene entendeu que a moça pensava no futuro. E Damon aceitava muito bem a companhia de Melinda. Além de que, de fato, seria ótimo ter a jovem auxiliando em tempo integral.
– “Bem, tenho um quartinho de empregada, não é muito grande, você sabe, se ele estiver bom para você...” – respondia Irene.
– “É perfeito para mim, Senhora Lempke”.
– “Bem, então, quando vier amanhã pode trazer as suas coisas. Mas faço questão de aumentar seu ordenado pelo tempo integral!”.
– “Muito agradecida, Senhora Lempke” – Melinda respondeu, e em seguida despediu-se de Damon.
***
Algum tempo depois, Irene se lembrou de que havia convidado Gina e seu namorado, Ray para o almoço do dia seguinte.
– “Oi, Gina, Você pode ficar um segundinho com o Damon... Eu me esqueci de passar no mercado para comprar as coisas para o almoço de amanhã, e a Melinda já foi faz algum tempo... Pela manhã o horário ficaria apertado...” – disse Irene, ao ser atendida pela amiga e vizinha de andar.
– “Claro que posso ficar com Damon! Mas eu poderia ir ao mercado e comprar o que você queira para o nosso almoço amanhã!” – Gina respondeu, interrompendo.
– “Não! Faço questão de comprar, e é bom que posso escolher pessoalmente! Sabe, vai ser mesmo bom poder ter a Melinda em tempo integral aqui!”
– “A Melinda vai morar aqui? Isso vai ser ótimo pra você e o Damon...”.
– “Vai sim! Mas deixa eu ir logo, amiga, preciso pegar o mercado ainda aberto! Já volto!”.
Irene foi a pé ao mercado, afinal era muito mais simples do que pegar o carro na garagem do prédio, já que eram apenas algumas quadras.
Quando estava voltando com as compras, ao passar por um trecho pouco movimentado, percebeu que a estranha figura, com roupas que lembravam as vestes de um monge e que tantas vezes vira, a estava seguindo.
Primeiro apertou os passos, em seguida começou a correr. Mas o homem a alcançou, próximo à entrada de um beco.
Ele a segurou e começou a dizer coisas estranhas, com sotaque italiano.
– “Você precisa me ouvir, Irene! Damon não é uma criança! Ele é o espírito de uma maldição! Ele precisa ser detido, caso contrário instaurará o horror!”.
– “Por favor, me solte!” – dizia Irene em pânico.
– “Há sentinelas! Não pude falar com você de outra forma! Eles estão vigiando! Precisa escutar! Damon provocou a morte do pai, e também a morte de Glaxton! Eu vim de muito longe, eu demorei a ter certeza de que era você a esposa de Bryan! Nós nos enganamos quando pensamos que a maldição de Little Town estava extinta! Ele precisa do sangue dos Lempkes! Estamos perto de completar treze anos desde a última Noite Maldita!”.
Irene estava apavorada. Ele sabia seu nome, o nome do seu filho e de seu ex-marido, falava sobre Little Town, cidade de Bryan.
Um homem apareceu e agarrou o velho estranho.
– “Solte-a!”- gritou o homem para o velho, acertando-lhe um murro no estomago.
O homem segurou o velho com uma das mãos e levou a outra dentro do casaco, como quem fosse sacar uma arma, um revolver, talvez uma faca. E estava prestes a arrastar o velho para o beco, quando um policial apareceu intervindo na situação.
“Ei, ei, ei! O que está havendo aqui?” – perguntou o policial.
O homem, então, soltou o velho e disse ao policial: “Este louco estava atacando a esta senhora”.
– “Está tudo bem com a senhora?” – o policial se dirigiu à Irene.
– “Sim, senhor!”.
– “Grato pela sua intervenção, cidadão, antes que algo acontecesse à senhora. Agora deixe o trabalho da polícia para a polícia”. – o policial disse se dirigindo ao homem.
O homem pareceu contrariado em deixar que o policial lidasse com o velho. Disfarçadamente tirou a mão de dentro do casaco. E deixou o local, antes que o policial quisesse saber mais sobre ele. Foi embora sem tornar a olhar para Irene.
– “A senhora está bem mesmo? Precisa de algo?” – o policial insistiu com Irene.
–“Tudo bem comigo! Não preciso! Obrigada, policial!” – Irene respondeu e voltou para casa.
Enquanto voltava para casa Irene tentava se lembrar de onde conhecia o nome “Glaxton”, que o estranho velho mencionou. Ela se lembrou. Era o nome do padre que batizaria Damon. Irene também tinha a estranha sensação de que o homem que apareceu e agarrou o velho não lhe era completamente estranho! Mas onde, onde o teria visto antes, de onde se lembraria dele?
***
Quando viu Irene entrando, Gina se levantou depressa espantada com a expressão da amiga e o modo como ela estava ao entrar em casa.
– “Meu Deus, Irene! Você está pálida! E ofegante! Aconteceu alguma coisa?”.
Com uma mão no peito e controlando a respiração agitada, Irene respondeu sussurrado para a amiga:
“Eu fui atacada! Na hora um cara apareceu e me livrou dele. Depois te conto. Como está o Damon?”
Damon veio do quarto e perguntou à Irene:
– “Aconteceu alguma coisa, mamãe?”.
Irene o abraçou, e beijou-lhe a cabeça.
– “A mamãe só demorou um pouco, meu filho!”.
***
No dia seguinte, enquanto Melinda estava com Damon no quarto do garoto, Irene contou sobre o ocorrido à Gina, enquanto elas preparavam o almoço.
Gina se impressionava com o relato.
– “Que loucura, Irene!”.
– “E você achava que eu estava tendo visões e precisava ir ao psicólogo!”.
– “E que coisas estranhas ele disse?”.
– “Coisas estranhas demais. O que me assusta é que Damon possa correr algum perigo!”.
– “Nossa, agora estou me lembrando! Enquanto você estava fora ontem, teve uma hora em que Damon, de repente, parou de desenhar e disse que você estava demorando demais e que alguma coisa estava acontecendo! Eu lhe disse que você só deveria estar demorando nas compras!”.
***
Algum tempo depois, à hora marcada, Ray chegava para o almoço. Sendo recebido por Gina e Irene, que disse à Melinda para vir com Damon, para apresenta-lo ao namorado da amiga.
– “Damon, este é Ray, namorado da tia Gina” – disse Irene ao filho.
Ray se ajoelhou em frente a Damon e conversou com o garoto.
– “Prazer em conhecê-lo, Damon!”.
– “Prazer, Ray. O senhor trabalha com segurança, não é?” – Damon disse a Ray.
Gina comentou com Irene: “Tá vendo como as crianças são espertas? Damon prestou a atenção quando te contei que Ray trabalha como segurança!”.
Ray sorriu para Gina e Irene, como quem se divertisse com o garoto. Então, voltando-se a Damon, respondeu:
– “Sim, senhor Damon, eu trabalho como segurança”.
– “Sentinelas precisam ser muito, muito atentos em seu trabalho. Pequenas falhas na segurança podem trazer muitos problemas!” – Damon respondeu em tom sério.
Os adultos se divertiram com a esperteza do menino.
Continua...