sábado, 27 de junho de 2015

Histórias de Vampiros



Vampiro polonês.

Um cidadão de Varsóvia chamado Jan Rzelaw tombou sob o pelotão de fuzilamento nazista em agosto de 1944 – Jan havia participado de uma revolta contra a invasão alemã à Polônia.
Quase dez anos depois um ex-suboficial do Exército alemão, voltando à vida civil na pequena cidade de Damme, na Alemanha Oriental, enforcou-se numa garagem. Deixou uma longa carta na qual explicava como o homem que ele havia fuzilado por rebelião vinha procura-lo e pedir vida. O suicida tinha um pulso enfaixado. Sob a gaze, existia o evidente sinal de uma feroz mordida.


Extraído da edição de setembro de 1973 da revista Planeta.

sábado, 20 de junho de 2015

Histórias de Vampiros



Um morto bem conservado

A fama do médico parisiense Trousseau – na metade do século retrasado – era tanta que lhe permitia cobrar 25 mil francos por consulta domiciliar.
Trousseau gostava de observar que a matéria viva se distingue da morta por certas manifestações características que só ela possui.

Mas em uma talvez apressada classificação, Trousseau não teve meios de incluir um tal Lesahor, paciente um pouco fora de série. Depois de um longo infrutífero tratamento hepático, o médico decretou que Lesahor falecera. A mulher do morto, que era doente cardíaca, ficou ignorante do falecimento do marido. Não suspeitou de nada, sobretudo porque o homem continuou a fazer-lhe visitas, para cumprimenta-la. Trousseau, que também tratava da mulher, soube disso pelas suas próprias palavras. Quis ver o fato com seus próprios olhos. Naquela noite se encontrava no quarto da senhora Lesahor na hora da visita, e teve o prazer e ao mesmo tempo a angústia de ver que seu ex-paciente não estava tão morto assim. Movia-se sem dificuldade, conversava com a mulher. Trousseau quis dirigir-lhe a palavra, mas o homem se despediu, dizendo que tinha muita pressa.
A razão da pressa, Trousseau descobriu na manhã seguinte, quando, com autorização oficial, pode dar uma olhada na sepultura de Lesahor. O morto estava em seu lugar e tinha um aspecto “excepcionalmente bem conservado”.
A mulher morreu poucos dias depois. Sua morte foi provocada por uma anemia de origem misteriosa. Trousseau fez um relatório pormenorizado do caso, mas o assunto não “despertou muita atenção” e foi arquivado. Afirmou-se posteriormente que o médico, com aquilo, queria arranjar publicidade.



Extraído da edição de setembro de 1973 da revista Planeta.

sábado, 13 de junho de 2015

Histórias de Vampiros



O Vampiro de Susak

Há cerca de 70 anos, em Susak, uma ilha de areia do Adriático, contava-se um caso curioso. Os habitantes, pelos escassos contatos com o continente, conservaram, através dos séculos, os hábitos, costumes, tradições.
O filho de uma mulher da ilha foi morto nos últimos dias da guerra. Agonizou por uma noite inteira, sem que ninguém fosse socorrê-lo. Morreu ao amanhecer, pouco depois de o encontrarem, e as últimas palavras foram uma desesperada invocação: “Quero viver, viver”.
Enterram-no na colina arenosa de Susak. Mas ele voltou, porque sua vontade de existir era mais forte do que a própria morte. Voltou para buscar o sangue que havia perdido, como fazem frequentemente os vampiros, cujo instinto é um misto de agressão e amor. E voltou-se para quem amava mais: a mãe. No momento de sua reaparição, a mulher toma consciência do que devia fazer. Ora, o vampiro, segundo a tradição, é sempre um ser infeliz, prisioneiro de seu instinto de vida. Um morto que agoniza, procurando inutilmente ressuscitar.
Em casos semelhantes, devem-se afastar os sentimentos, para o próprio bem do “doente”. Deve-se fazê-lo voltar à paz. A força que move aquele pobre corpo atormentado não é uma alma, mas uma mecânica de terror. E a mulher não teve dúvida. Confiou a um irmão, dois cunhados e outro filho a destruição daquela coisa que a chamava de mamãe.



Extraído da edição de setembro de 1973 da revista Planeta.

sábado, 6 de junho de 2015

Histórias de Vampiros



Mikonos

Na Grécia existe uma pequena ilha. Chama-se Mikonos. Uma cordilheira, um esporão de rocha granítica, escassa de vegetação. Esteve em poder dos turcos durante vários séculos. Mas em 1821 os seus habitantes fizeram um levante armado, lutaram pela independência e ganharam. Ali existe um pequeno cemitério onde se podem encontrar as sepulturas daqueles que tombaram pela liberdade. Ainda hoje são depositadas flores sobre os túmulos dos heróis mortos.
Mas há um outro cemitério na ilha. Um pequeno terreno atrás das rochas, onde os túmulos não têm nome nem cruz. Quem são aqueles mortos? A resposta está gravada numa placa na entrada do cemitério: “1700-1702 – Aqui jazem criaturas que não são deste mundo”.
Como indicam as duas datas, por três anos a ilha de Mikonos viveu no terror. E o medo ainda persiste através dos séculos, pois ninguém ousa arar o campo maldito.
Existe uma lenda segundo a qual ali estavam sepultados os gigantes, mortos por Hércules. Mas não é daqueles mortos que os habitantes tinham medo. Em 1701, o escritor francês Joseph Pitton de Tournefort se encontrava em Mikonos e foi testemunha da “grande epidemia vampírica”.
Escreve Tournefort: “A loucura parecia ter penetrado em todas as mentes. Era uma autêntica epidemia, como a raiva ou a peste. Famílias inteiras abandonavam suas casas e iam viver nos campos ou nos bosques. Todos se lamentavam do contato com os vampiros. Cada um ostentava, quase com orgulho, as marcas rubras das mordidas. Ao cair das trevas, todos se abandonavam aos lamentos, aterrorizados ante a ideia da noite que caía. Os vampiros: esse era o medo de Mikonos. E os sinais das mordidas apareciam realmente. Nos seios das mulheres, no pescoço dos homens. E todos experimentavam uma terrível exaustão. Muitos, depois de algum tempo – antes fortes e robustos –, morriam. E cada morto era um novo vampiro”.

Em três anos houve centenas de mortos em Mikonos, se bem que se combatesse a epidemia com “todos os meios úteis”.
Os “meios úteis” que eles conheciam eram o alho, a lança de madeira pontiaguda e a luz do sol. O alho, pendurado na porta das casas, impedia os vampiros de se acercarem delas. A lança, construída com madeira de freixo, matava-os. A luz do sol destruía o seu simulacro humano, restituindo-os à poeira do tempo.
Mas não existiam freixos na ilha e era necessário mandar os pescadores até as ilhas maiores – Creta e Delos –, para arranjar a madeira necessária à fabricação das lanças. Durante o dia, nas casas miseráveis, homens e mulheres preparavam as armas. Depois, quase no crepúsculo, antes que eles ressurgissem, os mais corajosos chegavam ao cemitério e escavavam as sepulturas.
Era fácil identifica-los. A culpa estava estampada nos seus rostos gordos e corados, sobre os seus lábios ainda úmidos de sangue. Então as lanças os traspassavam, aniquilando-os por toda a eternidade.
Toda vítima de um vampiro se transformava por sua vez em vampiro e devia ser tratada do mesmo modo, para impedir que ressurgisse da tumba e viesse atormentar os vivos, exigindo o sangue que havia perdido.
Pitton de Tournefort narra como via os corpos serem transportados ao cemitério maldito, atrás das rochas. Mas nem sempre sobrava alguma coisa. Os vampiros mais antigos, libertados da maldição, dissolviam-se no pó.
Collin de Plancy, em 1818, assim descreve os vampiros em seu Dictionnaire Infernal: “Desde tempos remotíssimos tem-se dado o nome de upires, vampiros, no Ocidente, de brucolakhi, no Oriente Médio, de katakhanes na Índia, aos homens mortos e sepultados que retornam, em corpo e alma. Falando, caminhando, amedontrando as vilas, sugando o sangue do próximo, tornando-o fraco e causando a sua morte. Quem morre por causa de um vampiro torna-se também vampiro. Não há como livrar-se das visitas perigosas desses monstros senão matando-os com lanças pontudas de madeira.



Extraído da edição de setembro de 1973 da revista Planeta.