sábado, 28 de fevereiro de 2015

Te Wairoa - cap 4




Capítulo Quatro


“Tama não é como lhe descrevi, Mr. Bainbridge?” – McRae perguntou ao seu hóspede favorito.

“Gostei muito das nossas conversas, aprendi bastante sobre o povo nativo daqui!” – disse Edwin – “Ele é muito divertido em alguns momentos. Como, por exemplo, quando ‘deu língua’ na direção de um casal pelo qual passamos!”.

“Acho que sei de que “casal” se trata! Clara, a professora e um dos inspetores que vieram visitar a escola. Eu os vi caminhando juntos”.

“Sim! Como soube?” – admirou-se o jornalista.

“Tama nutre paixão pela filha do diretor da escola, a Srtª Clara, no entanto, ele não tem coragem de cortejá-la. De qualquer forma não creio que Tama teria chances com a moça! Ela é um ano mais velha do que ele. Mas não lhe diga que comentei isso com o senhor! Ele pensa que ninguém percebe a admiração que sente pela moça!” – divertia-se Mr. McRae – “A língua de fora, é, para os Maoris, um gesto supremo de desprezo! Tama estava enciumado por ver seu amor platônico na companhia de outro!” – esclareceu.

O jornalista se divertiu ao ouvir sobre o acanhamento e ciúmes do nativo.

“De qualquer forma foi muito proveitosa a conversa com o jovem Tama, inclusive ele me disse tudo sobre o monte Tarawera” – afirmou Bainbridge.

“Duvido que ele tenha dito “tudo” o que sabe sobre aquela montanha! Ele lhe disse “tudo o que crê que um europeu possa saber sobre aquela montanha”!”.

A expressão de Edwin se tornou admirada.

McRae continuou – “Tama é extremamente apegado às lendas maoris, e costuma visitar o Tohunga da tribo”.

“O que é um Tohunga?”

“É uma espécie de sacerdote ancião, é um feiticeiro! Seu nome é Ariki. Nem pense em procura-lo! Sei que pode parecer supersticioso, mas aquele velho é capaz de amaldiçoar. Sobre a cultura maori aproveite Tama! E visite os Terraços Rosa e Branco! Sophia, a guia, pode lhe dar toda informação sobre os Terraços!”.

O jornalista julgou que o dono do Hotel vivera tempo demais em Te Wairoa, visto que demonstrava superstições sobre um velho feiticeiro, de qualquer forma, decidiu não tentar entrevistar o bruxo, que, se não fosse capaz de “jogar pragas”, certamente lhe seria no mínimo hostil. No entanto, decidiu que conversaria com outros maoris, com os quais pudesse se comunicar em inglês.
Em suas andanças pela aldeia conversou com o chefe Rangiheuea, que estava acampado em Te Wairoa, acompanhado por outras doze pessoas. Durante o tempo que passou conversando com o chefe provou mel colhido do monte Tarawera. Enquanto estava em companhia desses, Sophia, a guia, passou por ali, sendo saudada pelo chefe Rangiheuea. O chefe ofereceu do mel para Sophia – esta, entretanto, recusou instantaneamente. Ao perceber que se tratava da famosa guia turística, o jornalista se informou sobre os passeios, agendando sua visita aos terraços para aquele dia mesmo mais tarde.

Mais tarde, no Hotel, o jornalista conversava com McRae sobre a conversa com o chefe, o encontro com Sophia, e o deslumbramento com os Terraços Rosa e Branco.

Tama, que cumpria seus afazeres no hotel, não pode deixar de ouvir quando Edwin mencionou ter provado mel de Tarawera.

“Você comeu do mel?” – exclamou Tama, espantado. Seu rosto revelava um temor extremo – “Você não o poderia ter feito, Mr. Bainbridge!” – disse taxativo. – “É tapu! É tapu!” – exclamava em tom de grande alarde.

McRae se sobressaltou “Tama, não assuste ao Mister!” e encarregou seu empregado de ir ajudar aos homens que trabalhavam na construção da nova sala de recepção do hotel.

Edwin ficou muito intrigado sobre aquilo, e impressionado com a reação do nativo. McRae apressou-se em acalmá-lo sobre a reação do empregado.

“Você esbarrou em um traço fundamental da natureza maori” – disse McRae – “um maori é a criatura mais supersticiosa do mundo. ‘Tapu’ é tabu em língua maori. É um método de proteção! Se determinado animal está ficando escasso, o tohunga, ou mágico, declara-o ‘tapu’ e ninguém mais pode caçá-lo. É também um método de proteger a saúde. Se certos mariscos não são bons para comer em determinada época do ano, o tohunga declara-os tapu, e assim é com qualquer alimento que o tohunga considere que não deva ser consumido!”.


De fato, Tama não chegou perto de contar ao inglês “tudo sobre o monte Tarawera”!

Mas na casa dos Haszards, “A Velha Maria Maori”, criada dos Haszards contava ao interessado em lendas locais, Mr. Harris Lundius, sobre a lenda do “Demônio da Montanha”:

Cinco séculos antes:

Tamaohoi foi o primeiro habitante de Tarawera; foi ele quem deu o nome ao lago e ao monte. Ele era um chefe dos Tangata-Whenua, os povos antigos da terra, as tribos que habitavam a Nova Zelândia antes da chegada das Sete canoas maori. Como muitos outros ancestrais, ele é credenciado como detentor de poderes divinos. Tamaohoi foi um canibal feroz e costumava atacar de surpresa, matar e comer a carne de viajantes. Ele vivia nas margens do lago abaixo das escarpas íngremes da montanha quando Ngatoro-i-Rangi, o sumo sacerdote da canoa Arawa, desembarcou em Maketu com seus seguidores. Os hábitos canibalescos de Tamaohoi irritaram Ngatoro-i-rangi, que decidiu que o chefe ogro dos Tangata-Whenua ficaria melhor debaixo da terra! Então Ngatoro-i-rangi subiu o monte Tarawera. Ele pisou o cume da montanha e abriu um enorme abismo. Usando encantamentos mágicos e seus poderes sagrados sacerdotais, fez Tamaohoi descer ao abismo e depois a fechou sobre ele; e lá o filho canibal do solo mantem-se como o demônio da montanha.

– Maria, não incomode o mister com essas histórias tolas! – Clara, que acabava de chegar à cozinha, repreendeu a criada.

Velha Maria se sentiu ultrajada pela filha do patrão, mas calou-se submissamente e se retirou da sala.

– Está vendo sobre o que lhe digo, Lundius? Nossa aldeia ainda tem muita gente que crê lendas, mas não creem na Igreja!

– Não havia necessidade de ser ríspida com a senhora, eu lhe perguntei sobre lendas locais... Esses mitos nativos fazem parte de nossa cultura e histórias são importantes para nós que somos a Escola...

2 comentários:

  1. Gostei bastante do comentário sobre crer nas lendas, mas não crer na igreja, não respeitar as pessoas, pois somos iguais perante Deus e não levaremos nada desse mundo material em que vivemos iludidos com riqueza, empregados.O que levaremos é aquilo que plantamos de bom;boas ações serão sempre lembradas por todos.
    Lindo domingo,amiga!
    Bjus
    http://www.elianedelacerda.com

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  2. Boa noite querida Aline..
    desculpe a ausencia, estive ausente de tudo mas eu tive o prazer de ler tudo de antemão né srsr
    e a fazer uma poesia que gostei bastante.. adoro desafios.. mexer com minha imaginação.. gostei muito.. e as partes finais ficaram ótimas.. riqueza de detalhes.. muito bom mesmo.. beijos e uma linda noite até semrpe

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