quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Conto Trash


Inspirado no conto “O velho, a linda e o jovem” de Claudio Chamum, porém bastante diferente (especialmente o desfecho)!





Ele se encantou por ela no primeiro instante em que a viu. Apesar de haver no salão muitas belas jovens, todas impecáveis em seus vestidos de festa, quando ele a viu ela lhe ofuscou os olhos para tudo mais ao redor. Ela trajava um vestido preto, todo de renda, mangas longas, ombros e costas à amostra e um body bordado que dava a ilusão que estava quase nua. Tinhas seus cabelos, negros como a noite, presos, mas de forma que seus cachos caiam-lhe sensualmente pelo pescoço. Sua pele era clara como a porcelana, usava batom vermelho rubi, mas a maquiagem lhe valoriza, sobretudo, os belos olhos azuis.
Ao vê-la ele sentiu necessidade de afrouxar o colarinho de seu traje black-tie (exigido pela ocasião). Esticava o pescoço e inclinava a cabeça, seguindo-a com o olhar.
Como se tivesse percebido, mesmo estando longe, que atraíra a atenção do jovem, ela o mirou, flagrando o rapaz a observá-la. Os olhos dela eram como pedras de safira. Ele engoliu a seco e desviou o olhar – um pouco sem jeito. Olhou ao redor, como se imaginasse que todas as pessoas da festa houvessem percebido seu encanto pela moça. Tornou a olhá-la, após tomar mais um gole do seu drink. Ela havia se voltado para algumas pessoas com quem mantinha conversa, e depois de alguns segundos, tornou a olhar para ele, olhou-o de cima em baixo, como se o avaliasse e aprovasse, mas rapidamente retornou a atenção aos que estavam perto dela.
Ela passou a se deixar observar por ele, como fazem as mais experientes no jogo da paquera. Ela inclinava a cabeça e mexia no cabelo de forma que o rapaz se sentia cada vez mais hipnotizado por ela. Ele se mantinha voltado para ela, aonde quer que ela fosse, enquanto ela desfilava por entre os demais convidados. Ele se sentia atraído, de forma que mal podia conter a vontade de se aproximar. Em seu trajeto, ela olhou novamente para ele, e sorriu de forma que estivesse receptiva a uma aproximação.
Ela o fazia acreditar que estava sendo conquistada, satisfazendo sua vaidade masculina. O que ele não percebia, era que ele sim estava sendo presa da jovem.
Ele, envaidecido pelos olhares recíprocos dela, ajeitou o cabelo, colocou as mãos nos bolsos e estava prestes a ir até a jovem, quando ela, chegando a uma das mesas das festas, beijou com intimidade e na boca um senhor que estava à mesa, sentando-se em companhia deste. Ela cochichou algo ao ouvido do companheiro.

O rapaz passou a mão pela cabeça e depois passou a mão pelo rosto, enquanto se virava em sentido oposto à mesa com a jovem e o senhor, que a acompanhava.
“Putz! Que furada!” – ele pensou “É casada e está com o marido!”.
Ele permaneceu um tempo completamente desconcertado, mas não conseguiu deixar de tornar a olhar para ela. À mesa, ela se inclinava à frente, pegou uma taça de vinho, que bebeu sensualmente, olhou discretamente para o rapaz, cruzando as pernas, de forma que o lado interno de suas coxas se voltava para ele. Por mais que tentasse, o rapaz não conseguia deixar de voltar o olhar a todo instante para a moça. Corria-lhe os olhos pelas pernas, os cabelos, o lindo rosto juvenil. Sentia acalorar-se e ficou a ponto de perder a razão quando ela, após mais um breve gole de vinho, que encerrou a garrafa que o casal tinha à mesa, lambeu delicadamente os lábios vermelhos.
A essa altura, ele sentia as mãos suarem frio e estava quase descabelado de tanto que passava as mãos pelo cabelo pela agonia que a moça o impunha. O jovem esboçava o plano de deixar a festa, de forma a fugir dessa agonia, quando um dos garçons se aproximou dele e lhe disse, indicando a mesa com a jovem e o senhor. – “O casal àquela mesa o convida a beber um pouco de vinho”.

O rapaz foi até a mesa do casal, mesmo estando temeroso de que o marido tivesse se apercebido de seu interesse por sua jovem esposa.
“Boa noite” – o rapaz cumprimentou o casal.
“Queira sentar-se, meu jovem” – respondeu o senhor.
O jovem se sentou, sentindo-se completamente desconfortável com a situação. A moça o olhava de forma que seu olhar parecia penetrar-lhe a alma.
O garçom apresentou uma garrafa de Domaine Georges & Christophe Roumier Musigny Grand Cru ao senhor, que meneou a cabeça afirmativamente, o garçom, então, abriu o vinho e ofereceu a rolha ao senhor, que a cheirou, e, novamente meneou a cabeça, então o garçom serviu a taça do senhor, que com um gesto indicou ao garçom que deixasse a garrafa sobre a mesa.

“Conhece Erzsébet?” – perguntou o senhor ao rapaz, se referindo à sua companheira.
“Creio que... er... Talvez um pouco... de vista!” – o rapaz respondeu sem saber o que dizer.
“Bem, ela quis que o convidássemos a beber um pouco de vinho!” – o senhor disse servindo ao rapaz.
“O senhor aprecia o fruto da vinheira?” – questionou ao jovem, enquanto servia também à moça.
“Bem... pra dizer a verdade, eu não entendo muito sobre vinho, mas gosto muito da bebida...” – respondia desconsertadamente o jovem – “eu sempre tive dúvida sobre a forma de segurar a taça, se pela haste ou a copa...” – o rapaz disse em tom divertido, como que querendo suavizar a situação.
A moça sorriu, achando graça.
“A temperatura ideal para o vinho é 17 graus, se nos parece de acordo seguramos a haste, para que o calor da mão não o aqueça. Se, ao contrário, nos parecer mais frio, seguramos a copa para aquecê-lo. Sabe por que eu cheirei a rolha?”
“Er... na verdade, não o sei, senhor” – o rapaz respondeu desconcertado, sentindo-se inferior em cultura comparado com o senhor.
“Às vezes alguma bactéria que esteja na rolha altera-lhe o sabor”.
A moça segurou sua taça pela haste e a moveu circularmente próximo ao nariz, sentindo o buquê da bebida.
“Não é bonito como se assemelha ao sangue?” – a jovem perguntou ao rapaz.
O jovem engoliu a seco e respondeu “Sim”.
Só então o jovem reparou no estranho brasão da joia que a moça tinha como pingente de seu cordão.
“É húngaro” – ela comentou sobre o pingente.
“Seu nome...” dizia o rapaz.
“Erzsébet? Sim é um nome húngaro também, pode me chamar de Elizabeth, se o preferir” – disse a moça, sabendo o que o jovem pensava.
Ela tomou da bebia, de forma que seus lábios se molharam, e, com os olhos fixos nos olhos do jovem lambeu-os suavemente. O jovem sentiu seu corpo inteiro esfriar.
Ela se levantou e, olhou primeiro para o senhor e em seguida para o jovem, dizendo “Vou ao toalete”, retirou-se com um gesto formal.

“Erzsébet é uma linda jovem, não é?” – o senhor perguntou enquanto a moça se afastava e ambos a observavam seguir pelo salão.
A pergunta fez com que o rapaz tivesse certeza de que o marido percebera seu encanto pela esposa.
“Certamente sim... er... ela...”.
“Ela o hipnotizou, não é?”
Estava claro que não havia o que tentar esconder.
“O senhor não tem ciúmes? Digo... ela... ela é...”.
“Ela é jovem, é linda... Diga-me, meu rapaz, quantos anos você me daria?”
O rapaz se sentia muito sem jeito de responder
“Uns cinquenta talvez”- arriscou
O senhor achou graça.
“Muita generosidade! Quinhentos e cinquenta se aproximaria mais!”.
Ambos se divertiram.
“O que você pensa sobre um homem da minha idade que tenha como companheira uma jovem como Erzsébet?”
O rapaz se viu sem resposta
“Não precisa responder. Mas vou lhe dizer, eu não a posso satisfazer completamente. Contudo sinto-me satisfeito quando ela se satisfaz. Compreende?”.
“Estou admirado... er...”.
“Gosto de conhecer quem agradou a ela. Você me parece um bom tipo. Ela seleciona bem”.
O rapaz estava muito surpreso com o que o senhor lhe havia dito
“Veja, ela retorna”- o senhor disse alarmando a aproximação da jovem.
Sem tornar a sentar-se à mesa, Erzsébet disse ao senhor “Importa-se que ele me acompanhe um instante até a varanda, a apreciar o luar?”.
“De acordo, querida!”.

Ela tomou o rapaz pela mão e o conduziu através dos convidados. No entanto seu destino não seria a varanda, e sim um dos quartos do andar de cima da bela mansão.

Era um quarto amplo e belíssimo, mobilhado em estilo vitoriano.
Ela o conduziu até próximo à cama, e o derrubou, empurrando-lhe o peito. Ele caiu deitado de costas, sentia a boca secar, respirava agitadamente e ofegante. Com o olhar fixo nos olhos do rapaz, a linda moça subiu lentamente sobre a cama, engatilhando sobre ele até que os rostos estivessem próximos. A respiração dele se tornava cada vez mais pesada e lhe era impossível fechar a boca. Ela levou a cabeça na direção direita do pescoço do rapaz. Ele levou as mãos às belas coxas da jovem – sentiu lhe as coxas – frias como a morte. Ela beijou-lhe o pescoço, seu beijo, ao contrário era quente, quente como sangue! Ele sentiu um calor tremendo misturado à dor imensa em seu pescoço, enquanto seu corpo esfriava e sua vida se desvanecia.


4 comentários:

  1. Amiga, conto muito sensual !
    O "belo" é relativo, amiga!
    Muitas vezes nos enganamos pela aparência "linda" de algumas pessoas, temos que conhecer o interior de cada um, nunca nos empolgarmos por "beleza", e pesarmos o caráter, as atitudes, essas não nos enganaram nunca!
    Belo conto e bom domingo!
    http://www.elianedelacerda.com

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  2. Adorei a homenagem.
    Adorei o conto.
    Sensacional.
    Bjs

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  3. Estou aqui através do amigo Claudio.
    Um ser humano maravilhoso ,
    que tive oportunidade de conhecer melhor no blog da amiga Lindalva.
    Nunca imaginei ficar na final com tão grandioso poema do Claudio.
    Hoje ganhei uma coisa muito mais importante do que ,
    qualquer premio
    Um amigo de estrema educação e gentileza .
    Lindo texto !!
    Desejo um feliz final de semana abraços.
    Evanir.

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