sábado, 1 de novembro de 2014

Estranho e Extraordinário



O Telefonema


O bar do Luís era famoso na região por causa de um misterioso telefonema. Diariamente, às quatro horas da tarde, o telefone tocava e um homem perguntava se era do bar do Luís e pedia para falar com Sílvia.
Quando se perguntava quem queria falar com ela, o telefone ficava mudo. A princípio, todos pensaram que fosse uma brincadeira. Porém, devido à insistência, a brincadeira perdeu a graça. Quando o dono do bar foi à Companhia Telefônica investigar se a ligação era local ou de fora, o mistério aumentou. Descobriram que ninguém telefonava para o bar naquela hora. Com o tempo, Sr. Luís deixou de atender ao telefone e desistiu de descobrir quem dizia querer falar com a tal Sílvia. Certo dia, uma mulher que em tempos anteriores costumava ir ao bar do Luís em busca de algum item de mercearia, mas que ele não via há mais de cinco anos entrou no bar. Sr. Luís comentou sobre a ausência da antiga freguesa, e como ela era muito simpática e conversativa, começaram a papear. – Ela havia chegado do Sul e estava visitando todos os conhecidos. Enquanto ela explicava ao dono do bar que tinha saído da cidade por causa de uma briga com o pai – um fazendeiro riquíssimo –, que não queria que ela se casasse com um empregado chamado Edmundo, o telefone começou a tocar: eram quatro horas. Ela explicava que quando o pai percebeu que estava muito doente e ia morrer, mandou chamá-la de volta; mas ela tinha decidido voltar somente depois da morte do pai. Quanto ao namorado, apesar de amá-lo muito, nunca mais o vira. Ele faltou ao último encontro, quando se preparavam para fugir. Eles conversavam e o telefone insistia. Como Sr. Luís continuasse a conversar, ela pediu que ele atendesse ao telefone. Ele respondeu que não adiantava: era alguém que há cinco anos queria falar com “uma Sílvia”. A mulher ficou intrigada, disse que se chamava Sílvia, e pediu para atender. Do outro lado uma voz disse: “Sílvia, Sílvia querida, eu não faltei ao nosso encontro. Eu te amo, mas nada podemos fazer. Meu corpo está no precipício perto da Estrada Norte. Eu não te esqueci...” Antes de terminar a ligação, Sílvia estava desmaiada. No dia seguinte, a polícia localizou os restos de Edmundo, no local indicado. Ele tinha sido assassinado pelos capangas do pai de Sílvia. A partir desse dia o telefone voltou a funcionar normalmente. Edmundo tinha encontrado a paz.


Revista Planeta, Julho de 1973.

4 comentários:

  1. Boa noite querida Aline..
    as ligações afetivas se fazem tão fortes que por mais que se tente romper os laços eles tendem a ser cristalizados dentro de nós..
    tem fatos que não podem ser explicados.. coisas que não seriam possíveis mas que se fazem presentes..
    bem.. sempre tem as questões da culpa e perdão e quem parte parece que só encontra a paz depois de as pedir..
    eu como não curto telefone nem celular tenho rsrs
    acho que teria algum espirito atrás de mim se fosse o caso rsrs
    fazer o que.. eu nasci no tempo errado rsrsr só pode né..
    beijos meus e até sempre querida

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  2. Caraca!
    Nem todo o fantasma é do mal.
    Bjs

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  3. Gelou a espinha qnd ele começa a falar com Silvia pelo telefone. Já pensou? Sinistro

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  4. Que susto!!!!!!!
    É de arrepiar,amiga!!!!!
    Não tenho medo dos mortos, apenas dos vivos, esses são muitas vezes perigosos!
    Bjus e bom final de semana!
    http://www.elianedelacerda.com

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